Relações exteriores

Irã e Israel dominam debate sobre relações entre Brasil e Oriente Médio

17/10/2012 - 18:58  

Leonardo Prado
Samy Adghirni (correspondente da Folha de São Paulo em Teerã - Irã)
Samy Adghirni disse que busca, em seu trabalho, "humanizar" o Irã.

Analistas da situação geopolítica do Oriente Médio declararam, nesta quarta-feira (17), que um grande desafio para o trabalho jornalístico é demonstrar a diversidade cultural e contradições sociais e políticas da região.

Durante seminário da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional que teve como tema "O Brasil no mundo: deveres e responsabilidades no Oriente Médio", o jornalista Samy Adghirni, correspondente do jornal Folha de São Paulo em Teerã, capital do Irã, afirmou que busca, em seu trabalho, "humanizar" o Irã.

Segundo Samy, o país "tende a ser visto como um país de governo complicado, autoritário, mas as pessoas esquecem que tem pessoas, com seus dramas, alegrias individuais e coletivas".

O jornalista, que mora em Teerã há cerca de um ano, declarou que a sociedade iraniana é "vibrante" e composta por pessoas de vários posicionamentos políticos e culturais. "Há liberais, religiosos, conservadores. Uma coisa que chama a atenção é como os iranianos são nacionalistas e ufanistas", relatou.

Complexidade
Outro desafio citado pelo correspondente é "afinar o olhar sobre o cenário político iraniano", demonstrando a complexa formação política do país. "Há clérigos, militares, a turma do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Muita gente encara o Irã como uma coisa monolítica e só quem está lá consegue decifrar isso", destacou.

Para Samy, há ainda um terceiro objetivo que é revelar a dimensão econômica do Irã, apesar de as sanções econômicas aplicadas ao país já começarem a afetar seu desempenho. "O país tem 75 milhões de habitantes, uma das 20 maiores potências econômicas do mundo, está entre os maiores produtores e exportadores de petróleo, ainda que as sanções econômicas estejam fazendo efeito. O comércio também é muito vibrante, apesar de a moeda estar em processo avançado de desvalorização e as pessoas terem seu poder de compra reduzido”, relatou.

Alexandra Martins
Dep. Perpétua Almeida (presidente)
Perpétua Almeida lembrou que o Brasil procura sempre proteger povos em situação de conflito.

Outros temas
A presidente da comissão, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), autora do requerimento para a realização do seminário, disse que o colegiado deverá realizar outros eventos semelhantes. "A ideia é colocar, semanalmente, outros temas na comissão. Um deles é a posição do Brasil com a responsabilidade de proteger [povos em situação de conflito]".

Segundo Perpétua, essa defesa deve ser feita com cuidado, pois há casos em que "países sofrem intervenções internacionais com a desculpa de proteger civis e acabam matando muito mais civis do que os que precisam de proteção".

Israel
O jornalista Marcelo Rech, especialista em defesa e editor do site InfoRel, disse que uma das maiores dificuldades em registrar a situação sociopolítica nos países do Oriente Médio é causada pela dificuldade em obter informações, por causa das disputas ideológicas. A exceção, declarou, é Israel, que não dificulta o acesso a diversas cidades e autoridades independentemente de suas relações com o governo sionista.

Relatando uma de suas experiências profissionais na região, Rech declarou que "a democracia israelense dá um baile na brasileira, em relação ao trabalho jornalístico, pois nos levaram para ouvir até os palestinos em territórios ocupados que falaram mal de Israel", afirmou.

Em relação aos iranianos, Rech disse que o país "não se ajuda", pois não conseguiria demonstrar na comunicação que tem "muita coisa boa, uma população extremamente intelectualizada, inteligente, educada. Se você não sabe comunicar, [o que não é comunicado] não existe", definiu.

Em resposta a Rech, a presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, criticou o domínio de Israel na região, com o apoio dos Estados Unidos, especialmente em relação à criação de um estado palestino. "Os sionistas são criminosos de guerra, fazem política de limpeza étnica. Não pode ser chamado de democrata um estado que subtraiu o território de um povo com terror, com assassinatos em massa", declarou.

Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição - Juliano Pires

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