Relações exteriores

Debate sobre Itaipu coloca política externa do governo em foco

Governo defende integração e cooperação entre países vizinhos; oposição argumenta que o Executivo está agradando presidente do Paraguai com dinheiro público.

06/04/2011 - 23:55  

A revisão do Tratado de Itaipu (PDC 2600/10), que triplica o valor que o Paraguai cobra do Brasil na venda da energia produzida pela usina hidrelétrica e não utilizada por aquele país, reacendeu no plenário as diferenças entre governo e oposição sobre a condução da política externa. De um lado, deputados da base defenderam que o Brasil, como maior país do continente, deve ajudar os vizinhos e buscar a cooperação. Do outro, DEM e PSDB argumentaram que o País está agindo de maneira ideológica e favorecendo o Paraguai sem receber nada em troca.

Para o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), o tratado quer influenciar na disputa presidencial do país vizinho. “Quando se pretende triplicar o valor pago sem que o Brasil tenha justificativa para isso, verificamos uma benesse do governo que vai alavancar a reeleição do presidente paraguaio, Fernando Lugo”, ressaltou. “Não acho razoável que o Brasil seja onerado por um entendimento que busca dar suporte à eleição do presidente de país amigo”, emendou.

Esse argumento do oposicionista, segundo o deputado Fernando Ferro (PT-PE), busca macular o debate. “O Brasil, ao recompor esse preço, está sendo justo. Não estamos discutindo apenas o preço da energia, mas a relação entre dois países, na busca de diminuir assimetrias entre as economias vizinhas para fazer integração”, declarou.

A oposição destacou ainda que não cabe ao Brasil ajudar o país vizinho sem resolver os problemas internos. “O Brasil está graciosamente dando R$ 6 bilhões ao Paraguai até 2023 desconsiderando que esse dinheiro poderia atenuar as mazelas do povo brasileiro”, afirmou o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).

O líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), disse que o Brasil já tomou várias decisões em favor dos paraguaios, o que não justificaria o aumento dos repasses por Itaipu. “O Brasil já se dispôs a construir a segunda ponte para o Paraguai, investiu R$ 20 milhões para melhorar a infraestrutura daquele país; fez a lei dos sacoleiros; dá o mesmo tratamento dos motoristas brasileiros aos paraguaios”, enumerou.

Integração
Na defesa do tratado, o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), disse que o modelo defendido pelo governo atual quer o crescimento de todos os países do continente, e não apenas do Brasil. “Não passa pelo governo a ideia de o Brasil se desenvolver com o nosso vizinho passando fome. Queremos integração sul-americana para fazer com que o Paraguai não seja mais terceiro pior PIB do continente”, rebateu.

“O Paraguai se desenvolver é bom para o Brasil, é bom para os brasileiros que moram no Paraguai e é bom para o desenvolvimento de toda a América do Sul”, também defendeu o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Esse embate levou a oposição a lançar mão de diversas medidas protelatórias para tentar inviabilizar a votação do tratado na sessão desta quarta-feira. Os partidos oposicionistas apresentaram diversos requerimentos pedindo a suspensão da votação, o adiamento da votação e a retirada de pauta da matéria. “Podemos até perder, mas vamos resistir e mostrar a nossa contrariedade até o final”, disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), antes da aprovação do projeto.

Reportagem – Carol Siqueira
Edição – Marcos Rossi

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