Política e Administração Pública

Especialistas criticam modelo de financiamento do ensino superior

13/10/2008 - 21:00  

No encerramento do seminário internacional "Modelos de Financiamento para o Ensino Superior", realizado nesta segunda-feira na Câmara, as professoras Clarissa Baeta Neves, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Elizabeth Balbachevsky, da Universidade de São Paulo, destacaram a necessidade de redefinir o modelo brasileiro. De acordo com elas, a fórmula de distribuir recursos para as universidades públicas com base em dados como número de professores e de alunos está superada.

"Temos uma experiência muito rica de avaliação das instituições. Não há nenhum motivo pelo qual não se possa usar esses instrumentos para estabelecer formas de financiamento", destacou Balbachevsky. Na avaliação de Clarissa Neves, os debates durante o seminário deixaram claro que "não existe modelo ideal de financiamento".

Experiência asiática
O representante da Universidade de Hong Kong no seminário, Ka-Ho Mok, disse que a maioria dos países da Ásia oriental adotou a privatização do ensino superior para garantir a expansão do sistema. A Malásia, por exemplo, teria praticado a política de convidar universidades de alto nível de outros países para atuar em seu território, com o objetivo de passar a ser um pólo de educação superior. "O objetivo é tornar a educação não apenas um bem público, mas transformá-la em uma commodity que pode ser muito útil no mercado", destacou.

Cingapura, segundo ele, também teria recorrido a essa estratégia; e até mesmo a China, que continua oficialmente socialista, estaria investindo nesse modelo. O governo chinês, de acordo com Ka-Ho Mok, concentrou os investimentos públicos em duas universidades para torná-las de nível mundial, uma em Pequim e outra nas imediações da capital. Isso foi necessário porque o país tem mais de mil instituições de ensino superior e não haveria recursos para financiar todas uniformemente.

Segundo o especialista chinês, a opção pelas estratégias de mercado permitiu, aos países asiáticos, aumentar rapidamente o número de estudantes de nível superior. Hoje, de acordo com ele, 88,5% dos jovens coreanos estão na faculdade. O índice é de 78,6% em Taiwan; de 54% no Japão; de 38% em Singapura; de 32,4% na Malásia e de 19,1% na China.

No entanto, o sistema também trouxe problemas. Dentre eles, Ka-Ho Mok destacou o aumento das desigualdades na educação, a ameaça à liberdade acadêmica e a pressão sobre as disciplinas menos orientadas para o mercado.

Debate
O seminário foi promovido pela Comissão de Educação e Cultura em parceria com o Sistema Confederação Nacional do Comércio (Sesc-Senac). Os trabalhos da tarde foram presididos pelos deputados Gastão Vieira (PMDB-MA) e João Matos (PMDB-SC).

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Reportagem – Maria Neves
Edição – João Pitella Junior

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