Desenvolvimento da Amazônia custaria R$ 30 bi, diz ABC

05/06/2008 - 14:03  

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) estima em R$ 30 bilhões o investimento necessário para o desenvolvimento científico e econômico da Amazônia em um período de dez anos. A proposta, concluída no fim de maio, é considerada revolucionária por propor um novo paradigma de desenvolvimento, que valoriza a floresta em pé, a prestação de serviços ambientais e a formação de doutores em áreas.

Em documento concluído no fim do mês passado, a entidade propõe implantar um pólo científico a partir da solução de quatro "desafios urgentes": criação de três universidades públicas; criação de três institutos científico-tecnológicos; ampliação da pós-graduação; e fortalecimento das redes de informação na região.

"Ainda que possam parecer valores vultosos em comparação aos valores históricos regionalmente investidos em educação superior e ciência, tecnologia e inovação, tal esforço permitirá a diminuição do atual quadro de desigualdade e a formação de um contingente de mão-de-obra altamente qualificado, em um patamar inédito na região", registra o relatório.

O documento é assinado por seis especialistas em Amazônia: a geógrafa Bertha Becker (UFRJ), o climatologista Carlos Nobre (Inpe), o matemático Jacob Palis (presidente da ABC), o químico Hernan Chaimovich (USP), o geólogo Roberto D´Allagnol (UFPA) e o biólogo Adalberto Val (Inpa).

Bolsas
Os pesquisadores defendem a criação de bolsas específicas para garantir a fixação de doutores na região. Pela proposta, é possível formar na pós-graduação local 700 novos doutores a partir de 2009, desde que haja uma política de indução, com o pagamento de bolsas específicas. Em três anos, o número de PhDs da Amazônia subiria de 2,8 mil para 4,7 mil.

O documento lista uma série de temas para pesquisas na região, como água, mineração, saúde, recuperação de áreas degradadas, biodiversidade, antropologia e lingüística, direito ambiental, logística, engenharia de transportes, biotecnologia, serviços dos ecossistemas e energias renováveis.

Contudo, destaca a "urgência" de criar, nos próximos dez anos, três institutos cientifico-tecnológicos voltados para pesquisas aplicadas focadas em recursos florestais e da biodiversidade; recursos aquáticos; e recursos minerais. "As universidades e os institutos, articulados em rede em torno das três áreas focais fortalecerão núcleos para o desenvolvimento de pólos industriais inovadores, disseminados por toda a Amazônia", considera o relatório.

Para os autores da proposta, a carência de recursos humanos para atuar em ensino, pesquisa, desenvolvimento tecnológico e pós-graduação é um dos maiores entraves para o desenvolvimento da Amazônia e sua efetiva "inserção no país". "O número insuficiente de doutores atuantes na região cria condicionantes negativos que impedem a expansão do sistema de C,T&I e gera um círculo vicioso: sem doutores não se pode captar recursos, expandir a pós-graduação, selecionar docentes mais qualificados nos concursos das instituições de ensino superior (IES) e dos institutos de pesquisa, e ainda, muito menos, inserir mão de obra qualificada nos programas de P&D de empresas e indústrias".

Coordenação
A entidade reconhece a eficiência de diversas iniciativas e programas desenvolvidos nos últimos 30 anos para promover o desenvolvimento na Amazônia, mas destaca que diversos deles foram concebidos de maneira fragmentada. "A contribuição dessas ações tem sido substancial, embora apresentem superposições e lacunas decorrentes da falta de articulação", conclui. "Todos eles são caracterizados por uma fase de expansão, seguida de estagnação e declínio, que decorreu em grande parte da desarticulação e da falta de continuidade das políticas públicas".

Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição – Wilson Silveira

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