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Política de cotas na universidade é defendida em seminário

13/05/2008 - 20:40  

A política de cotas raciais nas universidades públicas vem apresentando bons resultados e deve ser mantida. Essa é a avaliação do representante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), Daniel Cara, que participou do seminário "200 Anos de Ensino Superior Público no Brasil". Ele contestou os argumentos dos intelectuais que entregaram ao Supremo Tribunal Federal um manifesto contra as cotas raciais nas universidades — entre eles João Ubaldo Ribeiro, Ruth Cardoso e Caetano Veloso.

Para Daniel Cara, o discurso do manifesto resvala para uma "meritocracia vazia e injusta", por não estar baseado em efetivo equilíbrio de condições. "Não há, no Brasil, o mínimo de igualdade de oportunidades", observou.

Daniel Cara criticou também o argumento desses intelectuais de que a política de cotas gera conflitos e prejudica a coesão social. "É irônico, muita gente só vê conflito social quando a elite é afetada. Setenta por cento dos jovens da periferia de São Paulo já sofreram violência policial. Por acaso os jovens da elite branca também têm os locais onde moram invadidos pelo caveirão da PM do Rio?" - indagou.

Bom rendimento
Em sua opinião, a política de cotas tem mostrado grande eficácia. Pesquisa recente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo mostra que, na Unicamp, os bolsistas do ProUni são os alunos de melhor aproveitamento.

Cara defendeu também a aprovação do Projeto de Lei 73/99, da deputada Nice Lobão (DEM-MA), que reserva 50% das vagas nas universidades públicas federais para alunos selecionados pelo bom desempenho ao longo dos três anos de ensino médio.

O representante da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, Cláudio Braga, disse que a pesquisa feita na Unicamp comprova a eficácia da política de cotas. "Não é apenas uma questão de ser justo com os jovens negros, é uma questão de considerar o interesse nacional: o Brasil não pode se dar ao luxo de desperdiçar talentos deixando fora da universidade jovens que têm tudo para ajudar a construir o futuro do país", sustentou.

Segundo Braga, o Ministério da Educação não mede mérito, mede capacidade. E para essa medição ser correta, explicou, é preciso levar em conta o ponto de partida de cada aluno. Ele contou que é professor de Direito, e que em suas turmas o desempenho dos bolsistas do Prouni é bastante superior ao dos demais estudantes, porque eles são mais dedicados.

Os sem-universidade
O representante do Movimento dos Sem Universidade (MSU), Sérgio Custódio, lamentou que as centrais sindicais não tenham ainda assumido a bandeira da universalização do acesso à educação, inclusive a de nível superior. O MSU é um movimento que reúne os egressos do ensino médio que não conseguiram acesso à universidade, além de estudantes e professores universitários solidários à causa. O movimento realiza cursos pré-vestibulares gratuitos em comunidades de baixa renda.

Sérgio Custódio pediu mais recursos orçamentários para a educação, criticou a Desvinculação de Receitas da União (DRU), e propôs uma campanha de massa para esclarecer a população sobre a importância do ensino público.

Fim do vestibular
O representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), professor Heleno Araújo Filho, defendeu que cada universidade tenha a autonomia necessária para definir formas de seleção de estudantes, levando em conta características regionais. Ele mencionou como exemplo a Universidade Estadual de Pernambuco, que implantou um sistema articulado de seleção que leva em conta o desempenho dos alunos durante os três anos do ensino médio.

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Reportagem - Luiz Claudio Pinheiro
Edição - Patricia Roedel

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