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OMS propõe avanço nas leis sobre efeitos da radiação

18/04/2007 - 21:59  

A coordenadora do Projeto Campos Eletromagnéticos (EMF, na sigla em inglês) da Organização Mundial da Saúde (OMS), Emilie Van Deventer, afirmou nesta quarta-feira que o Brasil precisa avançar o quanto antes nas leis de proteção contra ondas eletromagnéticas. Segundo ela, apesar de vários estudos sobre os riscos dessa radiação ainda estarem em andamento é fundamental que os países tenham proteção imediata na legislação.

A representante da OMS participou do seminário internacional "Efeitos da
Radiação Eletromagnética sobre a Saúde e o Meio Ambiente", realizado pelas comissões de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática; e de Minas e Energia.

Durante os debates, ficou claro que os especialistas ainda discordam a respeito dos possíveis efeitos das ondas eletromagnéticas sobre a saúde humana. O professor Renato Sabbatine, colaborador da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), foi taxativo ao afirmar que os estudos realizados até agora não apresentam evidências de que as ondas causam danos. Já na avaliação do professor Álvaro Augusto Salles, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diversas pesquisas mostram que não há como negar os males dos campos magnéticos.

Indicadores científicos
Emilie Van Deventer ressaltou que os índices de limite de exposição definidos pela Comissão Internacional para Proteção contra Radiações Não-Ionizantes (ICNIRP, na sigla em inglês) - usados como referência no Brasil - são considerados como satisfatórios.

A ICNIRP é uma organização internacional que analisa os impactos na saúde humana da exposição aos campos eletromagnéticos. Há outras que fazem levantamentos semelhantes, mas a OMS adota o trabalho da ICNIRP como referência

De acordo com o presidente da ICNIRP, Paolo Vecchia, apesar de o tema ser objeto de atenção em diversos países ainda não há elementos que definam as influências da exposição eletromagnética a longo prazo.

"Muitos fazem pesquisas induzidas só para publicar em jornais", acrescentou o professor Martin Blank, do Departamento de Fisiologia e Biofísica Celular da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Segundo ele, já está comprovado, no entanto, que as células produzem proteínas relacionadas ao estresse sempre que o corpo humano é exposto a campos eletromagnéticos, e isso poderia causar câncer.

Efeitos dos celulares
De acordo com o professor Renato Sabbatine, da Unicamp, apenas 1% a 2% dos estudos revelam possibilidade de haver efeitos maléficos provocados por ondas eletromagnéticas de baixa freqüência. "Ainda não se observaram efeitos significativos", sustentou.

Segundo ele, o uso de telefones celulares só poderia causar câncer na pele ou nos sistemas nervosos, visual ou auditivo. Mas, conforme ressaltou o especialista, não existe nenhum caso documentado de câncer de pele causado por causa externa que não seja o sol. Além disso, ele acrescentou que o câncer de ouvido está entre os tipos mais raros da doença.

Ao sustentar que há evidências concretas de danos à saúde provocados pelas radiações eletromagnéticas, o professor Álvaro Augusto Salles, da UFRGS, citou uma pesquisa realizada em Nayla, na Alemanha, que teria demonstrado uma incidência de câncer três vezes maior entre a população que mora a até 400 metros de torres de transmissão de sinais de telefones celulares.

Ele mencionou outro estudo realizado na Netânia, em Israel, segundo o qual a ocorrência da doença é 4,15 vezes maior para quem vive a uma distância de até 350 metros dessas torres.

Mudanças no DNA
O professor Francisco de Assis Tejo, da Universidade Federal de Campina Grande, argumentou que as radiações colocam a saúde em risco. Segundo ele, a exposição a esse tipo de onda reduz em cerca de 40% a produção de melatonina. Essa substância, conforme Tejo, é produzida no cérebro e tem a função de detectar e eliminar células defeituosas. Sua atuação principal é na proteção contra o câncer de mama e o de próstata.

O pesquisador citou o projeto Reflex - estudo de quatro anos financiado pela União Européia -, que detectou alteração no DNA e nos fibroblastos (uma das estruturas celulares) mesmo quando a exposição ao campo magnético ocorre em níveis menores do que os permitidos pela ICNIRP.

Confira o estudo da consultoria sobre o assunto
Veja o parecer do deputado Júlio Semeghini ao PL 2576/00

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Reportagem - Rodrigo Bittar e Maria Neves
Edição - Regina Céli Assumpção

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