Direitos Humanos

Especialistas pedem pesquisas para que Estado possa combater crack

21/10/2009 - 15:47  

Especialistas da área de redução de danos cobraram mais pesquisas para que o Brasil consiga desenvolver políticas eficazes no combate às drogas, especialmente o crack. Para alguns técnicos que participaram do seminário sobre o assunto promovido nesta quarta-feira pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, a pesquisa feita no Brasil é elitista e precisa de mais recursos para obter informações precisas sobre essa droga. Dados apresentados no evento mostram que o consumo do crack deixou de ser um problema das grandes cidades para impactar também o atendimento à saúde dos municípios menores.

"Nos últimos oito anos, houve mudanças no modo de apresentação do crack, que começa a afetar a população da classe média", declarou o coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado. Para ele, é importante que o sistema de saúde assuma "de maneira clara" a responsabilidade pelo problema de drogas e, entre outras medidas, encontre meios de estabelecer uma relação de confiança e reciprocidade com os usuários. "Temos que ampliar a face protetora do Estado em detrimento da face repressora", definiu.

Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), organizador do seminário, os debates demonstraram a necessidade de o Congresso garantir mais recursos orçamentários para as políticas de redução de danos. "Está claro que o Estado deve se preocupar com ações apoiadas por pesquisas", declarou.

Modelo controverso
O modelo proposto pelo ministério – com protagonismo político do governo – teve um contraponto das experiências internacionais no seminário. O representante da organização não governamental argentina Intercambios, Pablo Cymerman, por exemplo, declarou que as ações de redução de danos em seu país são quase integralmente implementadas pela sociedade civil.

Já o professor da Universidade de Toronto (Canadá) Benedikt Fischer declarou que em seu país é o governo o maior opositor às medidas de redução de danos, que incluem a distribuição de kits e oferta de locais seguros e públicos para que as pessoas possam usar drogas de maneira menos danosa. "Esses instrumentos ainda estão disponíveis graças aos tribunais, porque o governo federal é muito conservador", afirmou. De acordo com Fischer, cada kit com instrumentos (como o cachimbo) e material educacional distribuído aos usuários custa 1 dólar.

O uso do cachimbo é um agravante importante no caso do crack porque o fato de ser confeccionado com materiais impróprios – como latas e embalagens diversas – provoca feridas nas bocas dos usuários, facilitando a contaminação por diversas doenças, como hepatite C e aids, pois o uso da droga é relacionado à prática de sexo sem proteção. "Os relatos dos usuários demonstram que o efeito da droga reduz muito a preocupação com as doenças", informou o professor da Escola Paulista de Medicina Elisaldo Carlini.

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Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição – Patricia Roedel

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