Estatuto permitirá a inclusão a 90 milhões de negros, diz deputado

11/09/2009 - 18:41  

Presidente da comissão especial que debateu e aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, o deputado Carlos Santana (PT-RJ) afirma que a aprovação representa o reconhecimento de que não há igualdade racial no Brasil, "o que sempre foi negado".
De acordo com o parlamentar, foram necessárias mais de 40 reuniões na comissão especial - em que foram ouvidas cerca de 200 entidades - para que se chegasse ao consenso que permitiu a aprovação da matéria por unanimidade.

Em entrevista à Agência Câmara, o deputado explica melhor o que é o Estatuto:

Agência Câmara - Como surgiu a ideia de elaborar um Estatuto da Igualdade Racial?
Carlos Santana -
Da luta dos negros e negras, com a solidariedade dos brancos e de todas as etnias. Ele é o resultado também da luta iniciada há 350 anos com a indignação de nossos antepassados. Mais recente, ele é consequência de uma luta de mais de dez anos no Legislativo. A versão aprovada na Câmara é a que foi aprovada pelo Senado e modificou alguns itens do texto que os deputados haviam aprovado em 2002.

Agência Câmara - O que garante o Estatuto?
Carlos Santana -
O projeto original (PL 3198/00) é do ex-deputado e atual senador Paulo Paim (PT-RS), que foi concebido para garantir direitos essenciais à população negra brasileira em sua totalidade. O texto, que tem caráter compensatório e sobretudo reparatório, impõe normas com finalidade de combater a discriminação racial incidente sobre a população negra, com a implementação de políticas públicas pelo Estado.

Agência Câmara - Como foi o processo para aprovação da matéria?
Carlos Santana -
Foram várias fases, mas quero destacar a importância da II Conferência Nacional da Igualdade Racial, ocorrida dos dias 25 a 28 de junho em Brasília. No evento, ficou definida como prioridade a urgência da votação do Estatuto da Igualdade Racial.

Agência Câmara - O que o senhor destaca como positivo no Estatuto?
Carlos Santana -
O primeiro ponto é que ele permitirá a inclusão de 90 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem num processo de apartheid e exclusão brutal. Ele também fará com que, após 121 anos de abolição da escravatura, os negros deixem de ser apenas dois artigos na Lei Áurea. A garantia à saúde é fundamental, porque nós negros temos doenças que são específicas da população afrodescendente, como a anemia falciforme, que agora vai ter uma política de tratamento especial no Sistema Único de Saúde.

Agência Câmara - Qual foi a maior controvérsia na discussão do Estatuto?
Carlos Santana -
Houve muitas questões que acirraram os debates, mas a maior controvérsia questionada durante as reuniões foi quanto à posse da terra por comunidades quilombolas. Tanto que a questão agora será decidida pelo Supremo tribunal Federal, uma vez que há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade do Democratas contestando o Decreto 4887/2003, do Executivo, que regularizou as terras quilombolas. Diante disso, o Estatuto não disciplinou esse assunto. O relator, deputado Antônio Roberto (PV-MG) retirou o artigo que definia quem são os remanescentes de quilombos.

Agência Câmara - O senhor avalia que Estatuto, depois de aprovado pelo Congresso, será uma lei que vai pegar?
Calos Santana -
Com certeza. Claro que haverá setores que vão dizer que não houve avanços, mas a história vai mostrar isso. A Lei Caó (inciso 42 do artigo 5° da Constituição Federal, que prevê a prática do racismo como crime inafiançável) foi combatida e rejeitada por alguns setores e hoje se mostrou atual e ideal, permitindo a tipificação do crime de racismo.

Agência Câmara - Como será a tramitação do projeto agora?
Carlos Santana -
Ele agora vai para o Senado Federal, onde também há um acordo para imediatamente se constituir uma comissão especial para aprovar o Estatuto, a fim de que o presidente Lula possa sancioná-lo ainda neste ano. Nossa previsão é de que ele seja aprovado até o dia 20 de novembro que é o dia Nacional da Consciência Negra.

Veja os principais pontos da proposta aprovada

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Reportagem - Luiz Paulo Pieri
Edição - Newton Araújo

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