Relator discute em chat projeto sobre crime pela internet

24/06/2009 - 17:32  

Proposta a ser votada na Câmara tem muitos pontos polêmicos, segundo especialistas. Temor é de que a nova lei a ser aprovada interfira na privacidade das comunicações online e na liberdade de acesso aos conteúdos.

A Agência Câmara promove nesta quinta-feira (25), às 10 horas, bate-papo pela internet com o deputado Julio Semeghini (PSDB-SP). Ele é o relator da proposta que criminaliza os delitos praticados por meio da internet, como golpes financeiros, racismo e pedofilia. O projeto define como crimes o roubo de senha pessoal, a difusão de vírus e o acesso não-autorizado a qualquer tipo de informação por meio da internet.

Para participar do chat, o interessado deverá acessar o site www.agencia.camara.gov.br e clicar no ícone do bate-papo, que estará disponível no menu ao lado direito.

Em debates recentes na Câmara, especialistas apontaram os principais pontos polêmicos da proposta em análise na Câmara. Confira abaixo.

Invasão de privacidade
* O projeto preocupa os que trabalham online e todos os interessados em garantir o livre acesso à rede global de computadores. O maior temor é que a proposta interfira na privacidade individual de cada um poder acessar livremente os conteúdos que bem entender.

Redes abertas
* Para o professor Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade Cásper Líbero, os termos gerais e amplos do projeto são preocupantes. "Ele cria uma série de dispositivos que bloqueiam as redes abertas, criminaliza condutas que são corriqueiras na internet e remete a regulamentos obscuros. Não se sabe o que vai acontecer."

Insegurança jurídica
* A proposta criaria insegurança jurídica e dificultaria a manutenção de projetos de inclusão digital em curso, pois prevê uma série de condutas que não poderão ser punidas porque o Estado não teria condições de fiscalizar e prender todas as pessoas incluídas.

Comunicação sem autorização
* Na redação dos artigos, é incluído o acesso a dispositivos de comunicação sem autorização. Um exemplo preocupante, segundo os críticos: uma criança que use a senha de acesso do pai para utilizar o telefone celular dele e ligar para a mãe. Conforme a redação atual do projeto, isso poderia ser considerado crime, pois o texto é muito amplo e permite essa interpretação.

Trabalho policial
* Delegados criticam a exigência de autorização da Justiça para que a Polícia peça aos provedores a manutenção de dados, o que, segundo eles, atrasaria ainda mais o trabalho policial.

Baixar músicas
* A proposta abriria a possibilidade de criminalizar o ato de baixar músicas da rede, o que hoje acontece com cada mais frequência. Foi divulgado recentemente que um tribunal americano condenou uma mulher de 32 anos a pagar US$ 1,92 milhão por danos e prejuízos por baixar ilegalmente 24 músicas na internet.

Alto controle da internet
* Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), três aspectos são inadmissíveis no projeto: a violação dos dispositivos de segurança; o alto controle sobre a internet; e os dispositivos penais como estão redigidos. O deputado destacou que esses pontos precisam de ajustes. "O projeto pretende diminuir a utilização da rede e aumentar os controles, mas acaba fazendo com que a internet, que é o lugar da democracia, seja restringida por alguns mecanismos."

Redação ambígua
* Na opinião do professor de Direito Penal da Fundação Getúlio Vargas Thiago Bottino, a redação dos artigos que preveem a tipificação dos crimes cibernéticos está muito ampla e geral. "Inclui comportamentos que não são o objetivo da lei, porque não constituem crimes."

Escuta sem autorização
* Para o blogueiro e jornalista de tecnologia da informação Pedro Doria, o projeto continua a sustentar a ideia do provedor de acesso vigilante. Se qualquer um fizer denúncia ao provedor de que algum usuário comete crime, o provedor é obrigado a imediatamente comunicar sigilosamente à Justiça e a acompanhar cada passo de seu usuário em segredo - como uma escuta que não necessita de prévia autorização judicial.

Transferência de músicas
* Ainda segundo Pedro Doria, o projeto transforma em crime o acesso a qualquer apetrecho ou mídia digital que tenha sido protegido. Celular bloqueado pela operadora? Não pode desbloquear sem expressa permissão. Cópia de CD, mesmo que comprado, que não permita cópia para o computador ou iPod, será crime.

Tramitação da proposta
A proposta - PL 84/99, do ex-deputado Luiz Piauhylino, que já havia sido aprovada na Câmara - ganhou um substitutivo no Senado, do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), e voltou novamente para ser analisada pelos deputados.

Como tem regime de urgência, o texto está sendo analisado por três comissões simultaneamente. Semeghini relata o substitutivo na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.

Notícias relacionadas:
Relator quer aprovar criminalização de condutas na internet
Professor da UnB defende lei que discipline o uso da internet
Computadores poderão exibir alerta sobre uso indevido
PSDB quer urgência para projeto sobre crimes na internet
Câmara lança estudo sobre regulação da internet
Parlamentares querem mais rigor no combate à pedofilia na internet
Comissão pede liberação de campanha eleitoral na internet

Veja a íntegra do substitutivo do Senado.

Da Redação
Edição - Newton Araújo

(Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura `Agência Câmara`)

Agência Câmara
Tel. (61) 3216.1851/3216.1852
Fax. (61) 3216.1856
E-mail:agencia@camara.gov.br

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.