Economia

Presidente da CNI prevê crescimento zero neste ano

05/05/2009 - 21:45  

Durante audiência da comissão da Câmara sobre o impacto da crise na indústria, Armando Monteiro diz que o setor espera uma "recessão técnica" em 2009 e pede medidas como a desoneração do investimento e o aperfeiçoamento dos marcos regulatórios.

Em audiência pública da comissão especial da crise mundial no setor industrial, nesta terça-feira (5), o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), disse que a confederação trabalha com a possibilidade de o País entrar em uma recessão técnica neste ano, com uma taxa de crescimento de 0%. Ainda assim, ele acredita que a situação deve começar a melhorar nos próximos meses.

Monteiro relatou que até o momento a crise foi sentida de duas formas no País. A primeira foi a escassez de créditos, com uma retração que teve forte repercussão na atividade industrial. A segunda foi no movimento do comércio externo.

Segundo o empresário, mesmo o Brasil sendo comparativamente um país pouco aberto em termos de comércio mundial, alguns setores da indústria estavam fortemente voltados para as exportações quando estourou a crise.

Efeitos
O deputado aproveitou a divulgação, nesta terça-feira, de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta uma queda na atividade industrial de 14,7% no primeiro trimestre, para compará-la com um levantamento da própria CNI sobre a evolução do faturamento, exportações e emprego na indústria entre setembro de 2008 e fevereiro deste ano.

Quanto ao faturamento industrial, houve uma queda geral de 10,8%, mas algumas áreas sentiram muito mais, como a metalurgia, que teve uma queda de 41,4%; o setor de máquinas e equipamentos, que caiu 29%; e a produção de borracha e plástico, cujo faturamento encolheu 23,8%.

O campo das exportações foi dos mais atingidos. Elas despencaram 32,1% entre setembro e fevereiro, período em que o País deixou de exportar especialmente máquinas e equipamentos, veículos automotores e produtos da área de papel e celulose.

A CNI mediu um desempenho melhor quanto ao desemprego, mas, ainda assim, durante os seis primeiros meses da crise, o índice do emprego na indústria recuou 4,7%. Os setores campeões do desemprego foram o madeireiro, com menos 8,9% de postos de trabalho; outra vez máquinas e equipamentos, com uma redução de 7,8%; e transporte, com menos 7,7%. A boa surpresa no campo do emprego ficou por conta da indústria de álcool e refino de petróleo, a única em que houve aumento, de 3,7%.

Agenda para a indústria
Monteiro citou algumas medidas, já tomadas pela área econômica do governo, que têm sido eficientes para diminuir os efeitos da crise, como a diminuição da carga tributária para o setor de automóveis, a diminuição do empréstimo compulsório e a tentativa de aumentar as linhas de crédito para as exportações e também para as pequenas e médias empresas.

Mas, para a CNI, é preciso que o País assuma uma agenda de seis pontos principais para conseguir sair da crise na mesma situação em que entrou. Os pontos citados foram: a desoneração do investimento; a redução do custo de capital; a desobstrução de gargalos e procedimentos burocráticos que encarecem e até travam a produção; o aperfeiçoamento dos marcos regulatórios; o estabelecimento de um "cinturão de proteção em torno dos gastos em infraestrutura"; e o controle dos gastos públicos.

Entre os projetos futuros está também a criação do que Monteiro chamou de "fundo de aval" ou "fundo garantidor", que seria financiado em parte pelo Tesouro e em parte com recursos do sistema financeiro recolhidos pelo Banco Central. "Esse fundo faria com que os riscos pelos empréstimos concedidos fossem compartilhados entre os bancos e o fundo. Assim, esperamos que as instituições financeiras voltem a conceder crédito às pequenas empresas, o que não tem acontecido", declarou.

Próximas atividades
No final da audiência, o presidente da comissão, deputado Albano Franco (PSDB-SE), anunciou que as próximas reuniões serão na semana que vem. Na terça-feira (12), às 14 horas, a comissão ouve o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Já na quarta-feira (13), às 14h30, será a vez do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

A comissão especial da crise mundial no setor industrial é uma das cinco criadas pelo presidente da Câmara, Michel Temer, para avaliar o impacto da crise financeira mundial no País.

Continua:
Relator defende redução da carga tributária da indústria

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Reportagem – Juliano Pires
Edição - Marcos Rossi

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