Ex-agente do SNI volta a negar participação em escutas

24/09/2008 - 16:43  

O agente aposentado do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio do Nascimento negou, nesta quarta-feira, participação em escutas telefônicas da Polícia Federal (PF) e reiterou que a sua função na Operação Satiagraha era separar e-mails, datados de 2004, por tema. Ele afirmou que não teve acesso a detalhes da operação e que não sabia das atividades desenvolvidas pelos funcionários da PF e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que compartilhavam, com ele, o espaço de uma sala na sede da PF, em Brasília.

"A Satiagraha durou quatro anos, e eu só desenvolvi funções burocráticas nos últimos cinco meses. Além disso, o delegado Protógenes Queiroz [chefe da operação] era adepto da compartimentação total dos trabalhos — o que uma pessoa faz não é compartilhada com outra — e não cabia a mim ficar perguntando", declarou Ambrósio, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas. "Nego peremptoriamente a acusação de ter realizado escutas telefônicas legais ou ilegais, sobretudo contra o ministro Gilmar Mendes [presidente do Supremo Tribunal Federal] e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), e não tenho idéia de quem fez", ressaltou.

Ambrósio disse que a Satiagraha foi a sua primeira atividade remunerada desde a sua aposentadoria, em 1998. Segundo ele, o pagamento de R$ 1,5 mil era feito mensalmente pelo próprio Protógenes, em dinheiro, mediante recibo. Não foi assinado qualquer contrato entre as partes. "Creio que desenvolvi um serviço institucional, porque fui chamado pelo chefe de um inquérito e trabalhava no prédio da PF", avaliou.

Questionado pelo relator da CPI, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), Ambrósio declarou que sua experiência como ex-funcionário do setor de inteligência do governo não foi necessária nos trabalhos da operação, "que poderiam ser desenvolvidos por qualquer técnico administrativo".

O ex-agente disse que foi apresentado a Protógenes pelos oficiais da Aeronáutica Paulo Ribeiro Branco Júnior (major) e Idalberto Martins (sargento) em um café de Brasília. "Eu estava precisando complementar minha renda e o major Branco me indicou ao Protógenes, que havia reclamado de falta de pessoal para trabalhar em uma missão", informou.

Reunião antes de depor
Francisco Ambrósio admitiu que se reuniu com o diretor-adjunto afastado da Abin, José Milton Campana; com o diretor de contra-inteligência afastado da agência, Paulo Maurício Fortunato Pinto; e com o ex-diretor de Inteligência da Polícia Federal Renato Porciúncula. O objetivo do encontro, segundo Ambrósio, foi tratar das explicações que daria à Polícia Federal sobre a informação da revista IstoÉ de que ele seria o responsável pelo grampo da conversa entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres. A reunião aconteceu em uma casa de massas de Brasília, no dia 5 de setembro, e Campana não teria falado nada.

Ambrósio teria sido orientado por Fortunato e Porciúncula a ir voluntariamente à PF, no último dia 6, para falar com os delegados responsáveis pela investigação da denúncia de grampo, Willian Marcel Morad e Rômulo Berredo. Porciúncula teria se oferecido para acompanhá-lo, mas não compareceu à PF e Ambrósio depôs sozinho na tarde do dia 6 de setembro.

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Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição - Marcos Rossi

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