Relatório do Ipea revela racismo institucional

10/09/2008 - 12:09  

O relatório "Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça", divulgado nesta terça-feira (9) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que quase metade das mulheres negras com 25 anos ou mais nunca fizeram um exame clínico de mama (46,3%). Entre as brancas, a proporção é de 28,7%. Do total de mulheres nessa faixa etária, 36,4% nunca realizaram o teste.

Na mesma faixa de idade, 25% das mulheres negras nunca se submeteram ao exame de colo de útero, enquanto entre as brancas o índice é de 17%. No País, 21% da população feminina nessa idade nunca realizaram o exame. Na avaliação dos pesquisadores, a discrepância reflete comportamentos discriminatórios dos serviços de saúde, "resultantes de preconceitos e estereótipos racistas".

Para o ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, esses dados mostram o menosprezo do sistema de saúde pelos que vivem em situação de pobreza, "que atinge de forma mais profunda e dura a população negra". Para combater o que chama de "racismo institucional", ele informa que o Ministério da Saúde tem R$ 3 milhões no orçamento para elaborar políticas voltadas especificamente à população negra.

Na opinião da deputada Cida Diogo, é fundamental educar as mulheres para terem melhor consciência de seu corpo e da necessidade de cuidar da própria saúde. Já o deputado Carlos Santana (PT-RJ), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial, defende a realização de uma campanha nacional contra o racismo. O parlamentar também propõe políticas compensatórias, como a adoção de cotas pelas universidades.

Reflexos do racismo
Outro reflexo da situação de dependência da população negra são os índices relativos ao recebimento de benefícios assistenciais. Pela pesquisa, 69% das famílias que recebem Bolsa Família são chefiadas por negros. Além disso, 60% das pessoas que recebem o BPC-Loas e 68% das que recebem bolsas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil são negras.

Essas informações tornam-se mais compreensíveis quando se observa que, em 2006, enquanto 14,5% da população branca encontravam-se abaixo da linha de pobreza (renda per capita inferior a 1/2 salário mínimo), entre os negros o índice era de 33,2%. Dos brancos, 4,5% viviam abaixo da linha de indigência (renda per capita inferior a 1/4 de salário mínimo), enquanto 11,8% dos negros viviam nessa situação.

Devido a condições de trabalho mais precárias, os negros também têm mais dificuldade para se aposentar, apesar de começarem a trabalhar mais cedo. Entre a população negra com 60 anos ou mais, 34,7% ainda trabalhavam em 2006, comparados a 29,3% entre brancos. Na faixa de 10 a 15 anos, no mesmo período, 15% dos negros trabalhavam, enquanto apenas 11,6% de brancos nessa idade já estavam trabalhando.

O ministro Edson Santos acredita que essa situação só irá se alterar com a adoção de políticas específicas. "Precisamos de programas voltados à educação, à saúde e aos salários. Estudantes atendidos por cotas devem receber um outro olhar das empresas, que precisam saber que tiveram condições diferentes de um jovem de classe média", afirma.

Ele recomenda que as empresas públicas dêem o exemplo, oferecendo oportunidades de trabalho ou de estágio a esses profissionais. De acordo com o ministro, pesquisa anterior do Ipea mostrou que sem ações específicas de compensação para os negros, só em 65 anos o País será menos desigual.

Reportagem - Maria Neves
Edição - Natalia Doederlein

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