21/06/2018 19:28 - Educação
Radioagência
Especialistas prestam homenagem a Guimarães Rosa em encontro na Câmara
"Às vezes eu penso: seria o caso de pessoas de fé e posição
se reunirem, em algum apropriado lugar, no meio dos gerais, para
se viver só em altas rezas, fortíssimas, louvando a Deus e
pedindo glória do perdão do mundo. Todos vinham
comparecendo, lá se levantava enorme igreja, não havia mais
crimes, nem ambição, e todo sofrimento se espraiava em Deus,
dado logo, até à hora de cada uma morte cantar. Raciocinei isso
com compadre meu Quelemém, e ele duvidou com a cabeça: –
'Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho...' "
Lido pelo locutor Paulo Otaran, este trecho da obra Grande Sertão: Veredas foi um dos escolhidos para homenagear Guimarães Rosa, em encontro promovido pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados (20/6) com especialistas e apaixonados pelo escritor mineiro, que faria 110 anos no próximo dia 27 de junho.
Autor de alguns dos maiores clássicos da literatura brasileira - como o próprio Grande Sertão: Veredas e outros, como Sagarana e Corpo de Baile -, Guimarães Rosa foi traduzido para dezenas de países. Médico e diplomata, morreu em 1967, pouco depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras.
Para Ivana Ferrante Rebello, especialista na obra de Guimarães Rosa, a genialidade do escritor levou ao mundo um Brasil diverso em figuras e personagens.
"Guimarães Rosa, ele foi um dos maiores escritores da literatura brasileira. Mas além de tudo, Guimarães Rosa foi uma escritor que desbravou a literatura brasileira, expandindo-a para o mundo. Ele foi aquele que mistura na letra as figuras mais diferenciadas: o político; o jagunço; o vaqueiro; a meretriz; a mulher; a criança; o louco."
A presidente da Comissão de Cultura, deputada Raquel Muniz (PSD-MG), lembra que a obra de Guimarães Rosa também teve a contribuição importante de sua esposa, Aracy, que, como funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, arriscou-se diante do regime nazista para salvar judeus.
"E hoje foi um dia especial, onde a gente ouviu falar de Guimarães Rosa, em falar de quem estudou Guimarães não só nos livros e nas obras que ele deixou. Mas poder falar da sua intimidade, das suas cartas e revelar que, por trás de Guimarães Rosa, tinha uma grande mulher, que era Aracy. E um dos livros dele, ele dedicou a ela porque verdadeiramente ela teve uma contribuição importante ao mostrar para ele, enquanto diplomata, que estava fora, mostrar para ele a nossa história, especialmente a história dos Gerais, tão bem retratada na obra dele."
O debate sobre a obra e importância de Guimarães Rosa foi mais uma edição do Expresso 168, uma série de encontros promovidos pela Comissão de Cultura com artistas e escritores.