24/04/2018 20:10 - Trabalho
Radioagência
OIT alerta para precarização das condições de trabalho da indústria da moda
Pesquisadores e representante da indústria têxtil discutiram, nesta terça-feira (24), a precarização das condições de trabalho e o impacto das novas tecnologias usadas por empresas de moda e varejo. Eles foram ouvidos em seminário organizado pela Segunda Secretaria da Câmara e o movimento global "Fashion Revolution".
O evento marca os cinco anos do desabamento do edifício Rana Plaza, onde funcionava uma fábrica de tecidos, em Bangladesh. O desastre deixou mais de mil mortos e expôs a fragilidade dos padrões de segurança e saúde na indústria da moda.
Para a representante da Organização Internacional do Trabalho, Anne Caroline Posthuma, a busca por reduzir os prazos de produção e baratear os produtos tem consequências sobre a mão de obra:
"Isso acaba gerando pressão em cima dos salários e também das condições de trabalho dos trabalhadores desse setor. Então a OIT está atuando para promover o trabalho descente na cadeia produtiva do vestuário através do diálogo social e de atividades que vão promovendo o trabalho em condições formais. "
Sobre formas de engajar o pequeno agricultor na cadeia produtiva da moda, o pesquisador Wagner Lucena, da Embrapa, trouxe o exemplo do cultivo do algodão orgânico em comunidades na Paraíba, Ceará e Pernambuco.
"Como esses sistemas de produção partem da premissa de que a colheita é manual, inadvertidamente você tem o uso da mão de obra das pessoas locais que estão ali naquela comunidade e que vão participar da colheita e eventualmente vão ser empregadas, pelo menos, durante o período da colheita".
Os produtores recebem treinamento para o manejo sustentável da colheita e tem a produtividade avaliada por técnicos da Embrapa ao longo de 12 meses. Segundo Wagner Lucena o resultado é o aumento no valor agregado do algodão. O preço do quilo de plumas passou de 61 centavos em 2006, para 3 dólares em 2012.
Já o pesquisador do Senai, Marcello José Pio, disse que a indústria 4.0, ou seja, o uso robôs colaborativos, simulações espaciais e realidade aumentada, vai exigir mais do profissional de moda:
"O conhecimento de softwares, de novos materiais, principalmente a moda sempre teve uma característica muito peculiar de achar que ela era só criação, que ela estava muito dissociada de tecnologias de produção. Não, esse ato não vai mais existir."
O diretor da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima, informou que 85% da moda consumida no País é nacional. Segundo ele, o setor realiza auditorias, ao menos uma vez por ano, em 4 mil empresas da cadeia têxtil. A ideia é garantir os direitos trabalhistas de cerca de 320 mil empregados ligados ao setor. Ainda assim, ele lembrou que 30% do mercado de moda está nas mãos de camelôs e sacoleiros, o que dificulta um controle mais amplo sobre a cadeia produtiva.