22/09/2017 15:23 - Agropecuária
Radioagência
Dirigentes da Embrapa defendem subsidiária para comercializar tecnologia
Dirigentes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) defenderam a criação da subsidiária EmbrapaTec para viabilizar a comercialização de tecnologia no mercado. Já pesquisadores temem que a iniciativa privada possa guiar os rumos da pesquisa e privilegiar grandes produtores.
A nova empresa deverá negociar e comercializar tecnologias, produtos e serviços desenvolvidos pela Embrapa ou por outra instituição científica e de inovação. A autorização para a EmbrapaTec está em proposta (PL 5243/16) do Executivo debatida nesta quinta-feira (21) na Comissão de Desenvolvimento Econômico.
Para o chefe-substituto da Secretaria de Negócios da Embrapa, Raul Rosinha, muitas pesquisas só conseguirão sair das prateleiras dos laboratórios para chegar ao campo com parcerias.
"Para esses ativos eu preciso de parceiros. Esses parceiros é que vão me ajudar a transformar esses ativos naquilo que efetivamente o mercado quer, o agricultor quer, o produtor quer.'
A ideia da EmbrapaTec está em estudo desde 2004 e chegou a ser analisada em projeto no Senado, que acabou arquivado ao final da última legislatura, segundo Rosinha. O dirigente também falou que o modelo é semelhante ao adotado em países como Argentina, Austrália e França.
Segundo o consultor de Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, esse braço da Embrapa já deveria estar funcionando há muito tempo.
"A marca Embrapa hoje é subutilizada no que diz respeito à colocação de produtos no mercado. Um produto com a chancela Embrapa, ele não tem rejeição para os clientes, que seriam os agricultores."
Para o pesquisador da estatal Mário Urchei, a EmbrapaTec criará a lógica de priorizar o mercado agrícola e grandes empresas pautarão os interesses da estatal.
"Uma empresa de caráter público como a Embrapa precisa priorizar o investimento de seus recursos financeiros, humanos, de infraestrutura, de laboratórios, de equipamentos, etc, visando o desenvolvimento do segmento da sociedade e dos setores menos favorecidos, buscando diminuir as desigualdades regionais e a concentração de riqueza."
Segundo Urchei, a mudança legal tem uma lógica privatista em relação à geração e apropriação do conhecimento das empresas públicas.
O pesquisador Antônio Machado, representante dos funcionários no Conselho de Administração da Embrapa, reclamou que o corpo técnico não participou do debate sobre a EmbrapaTec. Ele também disse que a Embrapa já comercializa tecnologia há muito tempo e com competência.
"Acho que deve se evitar o risco de estar dando um passo sem volta rumo à privatização da Embrapa. São questões, essas 23, que não são minhas, foi uma síntese de questões gerais de pesquisadores de todo o País."
Para o relator da proposta na comissão, deputado Hélder Salomão, do PT do Espírito Santo, a audiência permitiu ter mais elementos para entender melhor a repercussão ao se criar a subsidiária.