Saúde

Especialistas admitem que não há políticas públicas voltadas à prevenção da gagueira

13/11/2018 - 20:32  

Na audiência da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados que tratou da gagueira, nesta terça-feira (13), os representantes dos ministérios da Saúde e da Educação admitiram que não existem políticas públicas específicas voltadas para esse problema. Além disso, o número de profissionais especializados é insuficiente.

Anelise Bohnen, pesquisadora do assunto e presidente do Instituto Brasileiro de Fluência, lembrou que há muito desconhecimento mesmo na área de saúde, o que muitas vezes impede a prevenção da gagueira.

"Todo adulto que gagueja foi uma criança não tratada na hora que deveria ter sido tratada”, afirmou. Segundo ela, o tratamento feito com crianças pequenas, a partir dos dois anos de idade, apresenta chance de 98 a 100% de recuperação total. “Nós precisamos de políticas públicas que de fato enfatizem esse trabalho preventivo.”

Além das dificuldades no tratamento, há os estereótipos e o preconceito. Pessoas que gaguejam são tidas como ansiosas e inseguras. A escolarização fica prejudicada, assim como a entrada no mercado de trabalho. Luiz Fernando Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Gagueira (Abragagueira), acrescenta que muitas pessoas não falam abertamente sobre o problema.

Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre “A questão da Gagueira no país
Luiz Fernando Ferreira, da Abragagueira, diz que os gagos se sentem em uma sociedade excludente

"Todos esses obstáculos se tornam ainda maiores quando olhamos ao redor e nos sentimos em uma sociedade excludente, que não nos enxerga, salvo no momento da piada, para fazer chacota", lembra.

Calcula-se que existam, no Brasil, dois milhões de adultos e dez milhões de crianças que gaguejam. A falta de fluência na hora de se expressar tem base genética e acontece pelo mau funcionamento das regiões do cérebro responsáveis pela fala.

Durante a audiência pública, foram apresentadas propostas de políticas públicas para as pessoas que gaguejam. Entre elas, um maior tempo em avaliações orais, como bancas de concursos, mestrado e doutorado. Outra reivindicação é realizar campanhas contra o preconceito, porque, segundo os participantes do debate, até professores praticam bullying contra estudantes que têm gagueira.

O deputado Glauber Braga (Psol-RJ), que pediu a realização da audiência pública, sugeriu que os integrantes da sociedade civil organizada façam projetos de lei a serem encaminhados por meio da Comissão de Legislação Participativa. Ele afirmou que esta é uma boa maneira de debater temas que ainda não são consensuais, como a classificação da gagueira como uma deficiência.

"Algumas pessoas dizem que não é o melhor caminho, porque entraria num signo de estigmatização. Outras, que apresentaram aqui argumentos sólidos, disseram que é importante, como uma garantia de direitos relevantes. Você tem que apresentar propostas e fazer com que através da tramitação os assuntos sejam debatidos", sugeriu o deputado.

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Os representantes das entidades da sociedade civil também querem que o dia 22 de outubro, que já é o Dia Internacional de Atenção à Gagueira, seja oficializado no Brasil.

Reportagem – Cláudio Ferreira
Edição – Ana Chalub

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