Saúde

Especialistas defendem humanização do parto para reduzir cesáreas desnecessárias

Levantamento feito em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostrou que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência obstétrica no Brasil. Tema foi discutido nesta quarta-feira (20) por comissão formada por deputados e senadores

20/06/2018 - 19:26  

Roque de Sá/Agência Senado
Comissão Mulher
Thais de Oliveira (4ª à direita): riscos da cesárea não podem ser omitidos

Parlamentares e especialistas defenderam nesta quarta-feira (20) o apoio ao pré-natal e a adoção de protocolo de humanização do parto como formas de combater a violência sofrida pela mulher no momento da gestação e no pós-parto. O debate, promovido pela Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher, concentrou-se na necessidade de diminuir o número de cesarianas desnecessárias realizadas no País. 

De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, em 2016, 56,5% das brasileiras foram submetidas a cesarianas e 44,49% fizeram a escolha pelo parto natural. Os dados mostram que o principal motivo para a escolha do parto normal é a expectativa de melhor recuperação no pós-parto; enquanto o medo da dor e a tensão às vésperas do parto foram os fatores que mais motivaram as gestantes a escolher a cesárea.

“Trata-se de uma cirurgia que salva vidas quando é indicada, mas, quando há o crescimento de cesáreas desnecessárias, observamos que seus riscos são omitidos”, observou a representante do ministério na audiência, Thais Fonseca de Oliveira.

Entre os riscos da cesariana, ela citou a hemorragia uterina, a depressão pós-parto e a inflamação do endométrio. Já o parto natural, segundo Thais, é a opção mais benéfica para a saúde da mulher por liberar substâncias que fortalecem o organismo do bebê, diminuindo o risco de internação em UTI, além de aumentar a autoestima da mãe e reduzir a necessidade de cesariana em uma futura gestação.

As deputadas Carmen Zanotto (PPS-SC) e Luizianne Lins (PT-CE) reforçaram a importância do pré-natal para diminuir o número de procedimentos desnecessários.

“Não é raro familiares pedirem ajuda para fazer uma cesariana, porque não querem esperar o parto normal ou por causa do medo das contrações uterinas durante o trabalho de parto. A gente não preparou a mulher para aquelas contrações, e ainda há o temor de não se usar anestesia”, disse Zanotto.

Humanização
Em levantamento feito em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, 25% das mulheres admitiram ter sofrido algum tipo de violência no parto, como o toque doloroso ou a recusa de aplicação da anestesia por profissionais de saúde. Conforme a pesquisa, 74% desses casos ocorreram na rede pública e 17% na rede privada (8% das entrevistadas admitiram ter sofrido violência em ambas as redes).

Na visão da presidente da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (Rehuna), Daphne Rattner, o problema não está no Sistema Único de Saúde (SUS), e sim na cultura de hostilidade aos direitos das mulheres que perpassa todo o atendimento médico.

“É uma cultura que legitima o feminicídio e o estupro como formas de punir a mulher que não se veste ou se comporta da forma esperada. Essa mesma cultura está fora e dentro dos hospitais”, frisou.

Nessa mesma linha, Hellen Cristhyan, fundadora da Casa Frida, instituição que auxilia mulheres em São Sebastião (DF), sugeriu a adoção de um protocolo para humanização do parto como forma de dar mais qualidade ao atendimento às gestantes e, sobretudo, de combater o racismo.

“No Distrito Federal, ainda é negado o suporte de doulas, bem como da equipe médica, com a justificativa de que a mulher é forte o suficiente para estar na cena do parto”, alertou.

Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Marcelo Oliveira

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