Relações exteriores

Deputada discute com rei do povo Yorubá da Nigéria qualidade de vida dos povos tradicionais

27/11/2014 - 20:40  

O rei Oba Al Maroof Adekunle Magbagbeola, de Ifon, região da Nigéria, foi recebido nesta quarta-feira (26) na Câmara dos Deputados pela deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), integrante da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.

Divulgação
Rei da Nigéria discute com parlamentares como melhorar a qualidade de vida dos povos tradicionais
Rei da Nigéria ao lado da deputada Janete Rocha (D).

No Brasil desde o dia 15, Al Maroof representa o povo Yorubá, um dos maiores da Nigéria – hoje um país republicano, com presidente.

O monarca está no País para tratar de temas como a aproximação do Povo Tradicional de Matriz Africana do Brasil, dialogar sobre o direito à alimentação tradicional, o direito à atenção integral a saúde, apresentar propostas para o enfrentamento das violações de direitos com a participação do governo e da sociedade civil, e envolver operadores da educação, saúde, alunos e munícipes.

De acordo com a deputada, “o reinado de Oba Al-Marouk Adekunle Magbagbeola perpassa as fronteiras Olufon de Ifon Osun, pois ele é descendente direto de Osalufon em terra, a presença de Oxalá é a possibilidade de receber um estadista um representante do povo e de recontar e viver a história”.

Ela explicou ainda que “um dos objetivos da visita é estabelecer um tempo sem racismo institucional a partir do reconhecimento do estado dos povos tradicionais de matriz africana a partir do fortalecimento e da consolidação dos princípios civilizatórios africanos como proposta frente aos grandes conflitos que colocam a população negra, e principalmente os povos tradicionais de matriz africana, em vulnerabilidade social, alimentar, ambiental e da própria existência material e imaterial”.

Visita ao Brasil
O rei esteve na semana passada na Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no centro do Rio de Janeiro. Durante a visita, Al Maroof voltou a afirmar que o racismo “não é bom” para o mundo, e cobrou o fim de toda e qualquer forma de apartheid (discriminação). “Queremos a edificação dos direitos das pessoas e liberdade para o povo negro. Cobramos que os governos atuem nessa direção. Tudo o que precisamos é equidade”, declarou.

O rei de Ifon conheceu também no Rio o Cais do Valongo - principal porto de desembarque de africanos escravizados nas Américas – e oCemitério dos Pretos Novos, onde foram encontrados restos mortais de jovens escravizados, que morriam antes de serem vendidos.

A ideia de trazer Al Maroof ao Brasil partiu de entidades ligadas a grupos religiosos, com o objetivo de apresentar ao rei tradições de origem africana mantidas no Brasil. Segundo a tradição dos povos de matrizes africanas, Al-Maroof é descendente direto de Oxalá, orixá associado à criação do mundo. No Brasil, o povo de tradição se autodeclara descendente de Yorubá, portanto, do Reino de Ifon, mas apartado de suas origens por causa da escravidão. Agora, a ideia é restabelecer as relações - inclusive políticas - com a Nigéria.

“Ele é descendente de yourubano de Oxálufan, que é uma qualidade de Oxalá - o mais velho, o mais antigo”, explicou a mãe de santo Celina de Xangô. “Ele é o representante da nossa divindade maior. Para nós, Oxalá é Deus. Representa a paz, a harmonia e a tranquilidade”, completou.

Autoridades republicanas e reis locais
Professora do Laboratório de Estudos Africanos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mônica Lima e Souza esclareceu que a política na Nigéria é marcada pela convivência entre as autoridades republicanas e os reis locais. “A autoridade institucional também governa por meio desses reis, que têm legitimidade política e espiritual nas comunidades, nos reinos”, acrescentou.

Para Mônica, a visita do rei Yorubá dá visibilidade aos locais que contam a história da população descendente da África no Brasil. “Há necessidade de conhecermos, e nos reconhecermos, nessa herança africana, em todos os sentidos - ter orgulho, assim como temos [orgulho] da herança ibérica. É como se tivéssemos herdado uma riqueza, da qual estamos agora nos apropriando”, enfatizou.

Da Redação - RCA

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