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Ensino técnico no Brasil é elitista, avalia especialista

05/09/2012 - 13:45  

Leonardo Prado
Cláudio de Moura Castro (professor)
Moura: escolas profissionalizantes atraem alunos com maior renda.

O especialista em Educação Cláudio de Moura Castro disse hoje em palestra na Câmara que o ensino técnico no Brasil é elitista. Segundo ele, as escolas profissionalizantes atraem alunos com maior renda em razão do alto nível de ensino. Para o coordenador da Frente Parlamentar da Educação, deputado Alex Canziani (PTB-PR), no entanto, essa não é a realidade atual.

Cláudio de Moura Castro, que é autor de mais de 30 livros sobre educação, explicou que os institutos federais de ensino técnico costumam oferecer um ensino acadêmico de alta qualidade, o que não é comum entre os centros de ensino gratuitos. Resultado disso, de acordo com o especialista, é uma grande concorrência pelas vagas, que são disputadas por exames, os chamados vestibulinhos. “Obviamente quem passa é quem teve uma experiência educacional mais rica, em geral aqueles com maior renda”, alertou.

Segundo Castro, essa realidade ainda prejudica a política de formação de mão-de-obra especializada no País, já que a grande maioria dos alunos dos institutos técnicos planeja prestar o vestibular e entrar na universidade. “A escola técnica recruta alunos que não estão interessados em ser técnicos. E aqueles que estão interessados não conseguem entrar porque o sistema de admissão é muito competitivo”, disse.

Para o deputado Alex Canziani, no entanto, as políticas de ensino técnico recentes têm mudado essa realidade: “Houve um avanço importante com a expansão e a interiorização do ensino técnico, já que antes existia uma concentração nas capitais. Com isso, as pessoas que buscam efetivamente o ensino técnico para exercerem a profissão têm tido mais oportunidades”.

Comissão especial

Brizza Cavalcante
Alex Canziani
Canziani: as pessoas que buscam o ensino técnico para exercerem a profissão têm tido mais oportunidades.

Alex Canziani participa de uma comissão especial da Câmara que estuda propostas de reformulação do ensino médio no País. O grupo, criado em maio deste ano, deve organizar debates e palestras em vários estados para encontrar um modelo mais adequado às necessidades dos jovens e do setor produtivo. “O gargalo da educação brasileira é o ensino médio. Temos de discutir qual ensino médio queremos porque infelizmente o modelo que adotamos há muito anos não tem sido exitoso”, disse o deputado.

Os 24 deputados do grupo devem debater temas diversos, que vão desde o currículo das escolas, até a quantidade de vagas necessárias de acordo com cada modelo de ensino. A ideia é que essa etapa deixe de ser simplesmente preparatória para o vestibular e atraia o interesse dos estudantes.

Um dos assuntos que serão debatidos é a formação dos professores, que também foi criticada por Cláudio de Moura Castro na palestra de hoje. Segundo ele, a exigência de formação acadêmica dos docentes não combina com o ensino técnico profissionalizante: “Um professor que está ativo no mercado de trabalho será bem mais útil nessa etapa de ensino que um doutor”, argumentou.

Outra crítica foi a falta de integração entre os conteúdos ensinados no chamado ensino técnico integrado, em que os alunos aprendem o conteúdo comum, exigido nos vestibulares, além de aprenderem uma profissão. “Os professores de matemática e física, por exemplo, em vez de integrarem a disciplina ao ensino profissionalizante, à profissão que os alunos estão aprendendo, ensinam o necessário para o vestibular, com exercícios comuns aos alunos em geral”, explicou.

Reportagem – Carolina Pompeu
Edição – Marcelo Westphalem

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