Direitos Humanos

Deputados e ambientalistas destacam legado de Chico Mendes

A luta do seringueiro em favor dos extrativistas e da floresta culminou no assassinato dele em dezembro de 1988

10/01/2019 - 17:17  

Mesmo 30 anos após o assassinato de Chico Mendes, deputados e ambientalistas ressaltam que o legado do líder seringueiro permanece atual e desafiador.

Nascido na floresta amazônica, Chico Mendes trabalhou por 28 anos no extrativismo e na fabricação de borracha. Segundo ele, foi preciso aprender a ler e escrever para descobrir a exploração sofrida pelos seringueiros. “Nós éramos explorados e roubados pelos patrões e não podíamos contestar, pois não sabíamos contar nem ler".

Miranda Smith, Miranda Productions, Inc.
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Chico Mendes trabalhou por 28 anos como seringueiro

Vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) afirma que Chico Mendes, "convicto e convincente nos argumentos e na militância", inspira o principal compromisso do Brasil no acordo internacional do clima: a redução do desmatamento.

"Antes de mais nada, a denúncia do Chico Mendes era a denúncia do modelo agroexportador primário que, lamentável e tragicamente, ainda prevalece em boa parte do território brasileiro e, particularmente, na Amazônia”, lamenta Jordy. “Então, a luta, a denúncia, a história e a atuação de Chico Mendes estão rigorosamente atuais nos dias de hoje", conclui.

A luta de Chico Mendes focou a defesa da rica biodiversidade da Amazônia, da floresta em pé e do estilo de vida das pessoas que sabem conviver com a natureza. Por causa disso, teve papel fundamental no despertar da consciência socioambiental brasileira.

Um dos legados de Chico Mendes foi o reconhecimento das reservas extrativistas, as unidades de conservação onde ocorre o manejo sustentável de áreas florestais. O coordenador do programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, lembra que hoje 35 mil famílias e 250 mil pessoas vivem em cerca de 40 milhões de hectares de reservas extrativistas no país.

"Ele trouxe à tona a invisibilidade das pessoas que manejavam a floresta. Quando ele foi reconhecido - primeiro, internacionalmente, e depois nacionalmente -, a população brasileira começou a perceber a importância que a própria população tem para conservar o meio ambiente. Isso transformou o movimento socioambiental no mundo inteiro a partir do legado e das ideias dele", afirma.

Deputado constituinte, o ambientalista Fábio Feldmann ressalta que, apesar de ameaçado de morte, Chico Mendes liderou uma resistência pacífica ao desmatamento da Amazônia, discutindo o texto constitucional e defendendo a sua grande bandeira: as reservas extrativistas.

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"Nessa época, ele já estava ameaçado. Alguns dias antes da sua morte, eu tinha combinado com ele de irmos até o ministro da Justiça para relatar essas ameaças. Infelizmente, ele teve problemas e foi diretamente para o Acre e acabou sendo assassinado às vésperas do Natal. Ele apontava desde logo aqueles que seriam seus assassinos, mas não houve sensibilidade efetiva por parte dos governos", lembra.

O assassinato ocorreu em 22 de dezembro de 1988, pouco mais de dois meses após a promulgação na nova Constituição do Brasil. Foi alvejado por tiros de escopeta em uma emboscada, na porta dos fundos de sua casa, em Xapuri, no Acre. O fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darcy foram condenados pelo assassinato, após comoção e mobilização internacionais. ONGs, comitês, associações e até um memorial foram posteriormente criados para manter acesa a luta de Chico Mendes.

Em homenagem ao líder sindicalista, o principal órgão responsável pela gestão das unidades de conservação do Brasil leva o nome de Instituto Chico Mendes.

Reportagem – José Carlos Oliveira
Edição – Ana Chalub

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