Consumidor

Continua polêmica na Câmara sobre preço diferente para compras em dinheiro

Alguns estabelecimentos oferecem descontos para pagamento em dinheiro, mas uma norma de 1989, do extinto Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, proíbe a cobrança de valores diferentes para pagamento em cartão e dinheiro

25/11/2014 - 22:19  

Antonio Araújo / Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre o PDC 1506/14, que susta a Resolução n° 34/89 do Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, que proíbe o comerciante estabelecer diferença de preço de venda quando o pagamento ocorrer por meio de cartão de crédito. Diretor da Associação Brasileira de Supermercados, João Carlos Coutinho Devens
João Carlos (D): o pagamento com cartão tem um custo mais alto que na maioria dos países. Isso é repassado para o preço.

A divergência sobre a definição de preços diferenciados de uma mesma mercadoria para o pagamento em dinheiro ou com o cartão de crédito continua na Câmara dos Deputados. A diferença consta da proposta (PDC 1506/14) que autoriza o comerciante a cobrar preços diferentes para pagamento realizado com dinheiro ou com cartão de crédito.

Durante a segunda audiência pública promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor nesta terça-feira, o diretor da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos Coutinho, destacou que o comércio enfrenta dificuldades ao utilizar cartões de crédito, com o pagamento de taxas e demora para receber os valores.

Consumidor de baixa renda
Segundo João Carlos, o pagamento com cartão tem um custo muito elevado no Brasil. “É um custo mais alto que na maioria dos países. Então isso é repassado para o preço. Quando nós repassamos, nós provocamos inflação e penalizamos aquele que compra em dinheiro que no Brasil é o mais pobre que compra em dinheiro - pode até ter rico comprando, mas o principal é o mais pobre. O diretor avalia que, pelo menos 50 milhões de pessoas, que estão no Bolsa Família, só compram em dinheiro. “E acabam pagando pelo serviço que não foi prestado a ele."

O deputado Guilherme Campos (PSD-SP) considera que a diferenciação nos preços representa uma forma mais justa de tratar principalmente os consumidores de baixa renda que fazem suas compras em dinheiro. "Essa legislação é perversa no sentido que não informa ao consumidor o quanto que tem de custo embutido pelo serviço do cartão de crédito. O cartão de crédito é um meio de pagamento eletrônico, é um serviço. Todo serviço tem custo e eu como consumidor quero saber o quanto estou pagando nesse serviço e decidir usar ou não esse serviço."

Taxas menores
Já o diretor da Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito, Ricardo de Barros, afirmou que a taxa média do uso de cartão gira atualmente em torno de 2,72% ao ano e a tendência é que esses valores sejam cada vez menores. 

Barros destacou a segurança dos cartões quando comparados ao uso de cheques. "O crescimento do cartão de crédito é benéfico para o consumidor e para o comerciante. Ele tem seus custos reduzidos, suas perdas reduzidas e a certeza de recebimento que ele não tem com o cheque, nem tem com o carnê e com a fatura."

O deputado Sílvio Costa (PSC-PE) acredita que o aumento na utilização de dinheiro em espécie vai acabar prejudicando o consumidor a médio prazo porque ao perder receita com a sonegação o governo vai aumentar a carga tributária.

Estímulo à sonegação
O deputado alega ainda que a proposta esta na contramão do que acontece no mundo inteiro com o aumento do dinheiro de plástico, mais seguro. "Na verdade esse projeto estimula a sonegação. Você vai chegar a uma loja e dizer: eu vou pagar em espécie. De cada dez comerciantes, uma parte com certeza vai pegar aquele dinheiro em espécie e não vai colocar na sua contabilidade para se livrar do imposto."

Tramitação
O projeto de decreto legislativo 1506/14, em análise na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, suspende uma resolução aprovada pelo extinto Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (CNDC) em 1989, proibindo a fixação de preços diferentes (resolução 34/1989). A proposta também terá de ser votada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Reportagem - Karla Alessandra
Edição – Regina Céli Assumpção

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