Agropecuária

Especialistas querem capacitar produtores para reduzir riscos com agrotóxicos

Anvisa e Conselho de Medicina chamam atenção para os danos à saúde decorrentes do uso de agrotóxicos. Produtores reclamam da burocracia para registrar novos defensivos no Brasil. Governo admite que o modelo de registros precisa ser reavaliado

27/11/2014 - 14:00  

A capacitação e a educação de produtores rurais foi uma das soluções apontadas nesta quinta-feira (27), na Câmara dos Deputados, para que o Brasil utilize agrotóxicos de forma adequada, reduzindo os riscos de intoxicação de pessoas e de contaminação do meio ambiente. O assunto foi discutido em audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, a pedido dos deputados Zé Silva (SD-MG) e Dr. Jorge Silva (Pros-ES).

Zeca Ribeiro - Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre o uso de agrotóxicos na agricultura e seus efeitos sobre trabalhadores rurais e consumidores de produtos agropecuários. Diretor do Departamento de Sanidade Vegetal, Luis Eduardo Rangel
Rangel reconhece que é difícil fiscalizar milhões de propriedades rurais

Segundo os participantes do debate, a capacitação se torna cada vez mais necessária diante do crescimento do mercado de agrotóxicos e da dificuldade de fiscalização do uso desses produtos. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, reproduzidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2006 foram comercializadas 480 mil toneladas de agrotóxicos no Brasil. Em 2012, esse número saltou para 827 mil tonelada - um aumento de 72% em seis anos. Também em 2012, o mercado nacional totalizou 9,71 bilhões de dólares.

“O Brasil tem quase cinco milhões de propriedades rurais. É realmente complexo entrar nessas propriedades e verificar o uso. Nossa estratégia agora é mapear os riscos regionais com a colaboração de dados regionais sobre intoxicação levantados pelo Ministério da Saúde para destinar fiscais estaduais e reduzir os impactos eventuais do mau uso”, explicou o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Luís Eduardo Rangel.

“Como extensionista, sei das dificuldades das instituições de controlar a utilização desses produtos”, confirmou o deputado Zé Silva.

Intoxicação
Os participantes da audiência chamaram atenção ainda para os possíveis danos à saúde decorrentes do uso de agrotóxicos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 220 mil pessoas morrem por ano no mundo em decorrência de intoxicação aguda por esses produtos. No Brasil, em 2013, foram registrados em média 6,5 casos por 100 mil habitantes, conforme dados apresentados pelo coordenador-geral de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Jorge Huet Machado.

A intoxicação varia de aguda leve até crônica, quando a pessoa pode desenvolver problemas imunológicos ou neurológicos, por exemplo. A gerente-geral de Toxicologia da Anvisa, Ana Maria Vekic, apontou ainda a relação entre agrotóxicos e câncer.

A fim de evitar casos de intoxicação, a representante do Conselho Federal de Medicina (CFM) Rosylane Rocha defendeu ações integradas entre várias instituições para promoção da saúde e também uma maior atuação de médicos do trabalho, além de educação e fiscalização.

Registro
O assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) José Eduardo Costa saiu em defesa dos produtores rurais. “O Brasil tem proporções continentais e clima tropical que favorece a proliferação de pragas”, disse. Segundo ele, o agricultor não usa agrotóxicos por querer, até porque se trata de uma parte cara da produção.

Zeca Ribeiro - Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre o uso de agrotóxicos na agricultura e seus efeitos sobre trabalhadores rurais e consumidores de produtos agropecuários. Assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Eduardo Brandão Costa
Costa criticou a demora do governo para liberar o uso de novos agrotóxicos no País

Ele reclamou, por outro lado, da lentidão dos órgãos governamentais em liberar o registro de novos agrotóxicos e cobrou uma reformulação no sistema. Hoje, disse ele, existem casos de agricultores usando produtos não autorizados em razão da burocracia do registro.

O representante do Ministério da Agricultura Luís Eduardo Rangel reconheceu que a demanda por registro no Brasil é muito maior do que a capacidade do governo em atendê-la. Em sua opinião, o modelo realmente precisa ser reavaliado: enquanto os Estados Unidos contam com mil pessoas para avaliar os agrotóxicos, no Brasil são apenas 50 pessoas.

“Mas não tem a ver com o número de técnicos, e sim com a capacidade de ler documentos extremamente técnicos. Só pessoas muito especializadas têm esse acesso. Estamos pensando em descentralizar parte da avalição, não da decisão, para institutos como universidades”, disse.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Natalia Doederlein

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