Trabalho, Previdência e Assistência

Trabalhadores do setor de teles pedem regulamentação da terceirização

Representantes dos empregados pedem aos deputados a aprovação de lei que estabeleça responsabilidade solidária das empresas em relação aos contratados e o fim da “quarteirização” – a terceirização de atividades de empresas terceirizadas; sindicato patronal ressalta que Lei Geral das Telecomunicações já regulamenta as contratações.

06/11/2013 - 20:15  

Alexandra Martins / Câmara dos Deputados
Audiência pública conjunta das comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) e de Defesa do Consumidor (CDC) sobre terceirização no Setor de Telefonia. Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações (FENATEL), Almir Munhoz
Almir Munhoz, da federação dos trabalhadores de teles, quer que as empresas sejam corresponsáveis pelas relações de trabalho das terceirizadas.

Participantes de audiência pública sobre terceirizações no setor de telecomunicações, realizada nesta quarta-feira pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, defenderam a regulamentação dessas relações de trabalho. Para os representantes do setor, faz-se necessário legislar principalmente sobre quais atividades podem ser terceirizadas e o tipo de responsabilidade da empresa contratante em relação aos trabalhadores – se subsidiária ou solidária.

Para o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações (Fenatel), Almir Munhoz, não basta que as operadoras tenham responsabilidade subsidiária, como prevê a legislação. “Elas têm de ter responsabilidade solidária, para se obrigarem a buscar empresas em condições efetivas de atuar, e sejam corresponsáveis pelas relações de trabalho”, defendeu, durante o debate promovido pelas pela comissões de Trabalho, Administração e Serviço Público; e de Defesa do Consumidor.

Munhoz também reivindicou que a legislação proíba a terceirização de atividades pelas empresas terceirizadas, chamada de “quarteirização”, prática que, conforme afirma, é comum atualmente. Segundo o sindicalista, “isso possibilita muita fraude trabalhista, pois, nessa terceirização da terceirizada, os trabalhadores não estão cobertos nos contratos”.

O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Manoel Messias, também é favorável à regulamentação. Mas, para ele, as empresas contratantes podem continuar a ter responsabilidade subsidiária em relação aos empregados da terceirizada.

Como condição, no entanto, defende que a contratante seja responsável pela fiscalização da obediência às normas trabalhistas. “Se chamadas à responsabilidade, teriam de comprovar que fiscalizaram, se não, responderiam pelas violações”, propôs.

Atividades-fim
Representantes dos trabalhadores do setor de telecomunicações também querem que a lei proíba a terceirização de atividades-fim. Essa, inclusive, é a interpretação do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Na Súmula 33, o tribunal decidiu que a Lei Geral de Telecomunicações (9.472/97), que autoriza a terceirização de atividades inerentes, acessórias ou complementares nessa área, não se aplica às relações de trabalho.

Ainda assim, o ministro do TST Augusto César Leite de Carvalho pede a definição clara desses conceitos. “Há a necessidade de estabelecer parâmetro razoável, a distinção clara entre atividade-meio e atividade-fim, e quem tem de fazer isso é o Congresso Nacional”, sustentou.

Na interpretação do diretor jurídico da Federação Brasileira de Telecomunicações (Febratel), José Américo Leite Filho, entretanto, a terceirização no setor já é regulamentada no País, justamente pela Lei 9.472.

Diante disso, acredita que o assunto será decidido pelo Supremo Tribunal Federal, já que, conforme sustenta, “essa interpretação do TST significa tornar a Lei Geral de Telecomunicações inconstitucional”.

Projeto 4330
Na Câmara, está em análise o Projeto de Lei 4330/04, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que regula o assunto. A proposta permite a terceirização de qualquer atividade em praticamente todos os setores da economia – exclui apenas a administração direta, autárquica e fundacional.

Alexandra Martins / Câmara dos Deputados
Audiência pública conjunta das comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) e de Defesa do Consumidor (CDC) sobre terceirização no Setor de Telefonia. Dep. Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS)
O deputado Marchezan Junior defendeu a aprovação do Projeto de Lei 4330/04, que regulamenta a terceirização.

Na opinião do deputado Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS), um dos autores do pedido de realização da audiência, a aprovação da proposta seria a solução para os problemas do setor. “Me parece que todos aqui são a favor do PL 4330, porque vai regular a terceirização, e, aí, vão ficar as empresas sérias”, disse.

Mas o deputado Vicentinho (PT-SP), que também é autor de proposta (PL 1621/07) sobre o tema, é contra o PL 4330, por considerar que não representa o interesse dos trabalhadores. “Do jeito que está proposto, tudo pode ser terceirizado. O que parece é que descobriram uma forma de ganhar dinheiro mais fácil, pagando menos aos trabalhadores”, argumentou.

Tanto o deputado quanto o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Sistemas de Televisão por Assinatura e Serviços Especiais de Telecomunicações (Sincab), Francisco Canindé Pegado, defendem a aprovação de uma lei que garanta aspectos como responsabilidade solidária, direito a informações sobre terceirizados, diálogo com as contratantes e mesmas condições de trabalho. Também reivindicam a terceirização apenas das atividades-meio.

Reportagem – Maria Neves
Edição – Marcos Rossi

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