Segurança

Pesquisa aponta que jovens negros são maiores vítimas da violência no Brasil

Índice de assassinatos de negros cresceu nos últimos anos, enquanto entre os brancos houve queda. Em audiência na Câmara, deputados e representantes do governo pediram maior atenção à juventude e dados oficiais mais precisos para nortear políticas de segurança pública.

05/05/2011 - 17:12  

Brizza Cavalcante
(E/D) Cel. Edson Araújo (Chefe Gab. Gestão Segurança DF e Entorno), Júlio Jacobo (Diretor Instituto Sangari), Dep. Mendonça Prado (DEM-SE) e Mário Teodoro (Sec. Executivo de Igualdade Racial)
No debate na Comissão de Segurança, destacou-se a negligência em relação à população negra.

Apresentada nesta quinta-feira em audiência pública da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, a pesquisa Mapa da Violência 2011, elaborada pelo Instituto Sangari, aponta que os crimes no Brasil são praticados principalmente contra jovens negros.

Segundo o diretor de Pesquisa do Sangari, sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, 73,6% das mortes entre jovens são provocadas pelas chamadas causas externas (homicídios, acidentes ou suicídio), com destaque para os homicídios (39,7% do total de mortes). “A história da violência no Brasil é a história de extermínio da sua juventude.” As mortes por essas razões nas demais faixas etárias não passam de 9,9%.

A juventude é definida no mapa como o período entre 15 e 24 anos de idade, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU). Para o governo brasileiro, são consideradas jovens as pessoas de 15 a 29 anos.

De acordo com dados do mapa, a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes em 2008 foi de 26,4 para a população em geral e 50 para jovens. “Mais de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes significa epidemia de violência. Todos os estados do Brasil estão em situação epidêmica”, afirmou Júlio Jacobo. Segundo o sociólogo, nos últimos anos houve uma disseminação da violência para fora dos grandes centros urbanos e uma interiorização do problema.

Em 2002, 30 em cada 100 mil negros foram assassinados, e o número foi para 33,6 em 2008. Entre a população branca, os homicídios caíram de 20,6 por 100 mil para 15,9. Entre os jovens brancos, a taxa teve queda de 30% (de 39,3 para 30,2 por 100 mil) de 2002 a 2008, e entre os jovens negros houve aumento de 13% (de 62,4 para 70,6) no mesmo período.

Veja os dados completos do Mapa da Violência 2011.

Negligência
Para o secretário-executivo da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Mário Theodoro, a violência contra o jovem negro é parte de um quadro maior de negligência em relação a essa parcela da população. “A maioria dos analfabetos, de jovens fora da escola, de desassistidos na saúde, é formada por negros. Quando vemos o aumento da violência, vemos a população negra morrendo cada vez mais no País”, afirmou.

Na opinião do deputado Alessandro Molon (PT-RJ), um dos autores do requerimento da audiência, a população jovem ficou esquecida pelo Poder Público. “Temos de discutir uma política nacional para a juventude que não passe só por segurança pública.”

Radiografia do crime
A secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Maria Miki, disse que o governo federal não conta com uma radiografia atual da situação do crime no País. Ela considerou lastimáveis as dificuldades enfrentadas na elaboração do Mapa da Violência 2011, como a falta de informações dos dois últimos anos e a inexistência de um sistema de dados nacional sobre segurança pública.

Como não existe um banco de dados central com essas informações, o relatório teve que se basear nas certidões de óbito do Ministério da Saúde. “Estamos tentando implementar esse sistema nacional, pois só assim teremos um diagnóstico preciso para orientar as políticas públicas”, disse.

Lula Lopes
Dep. Fernando Francischini (PSDB-PR)
Francischini reforçou a necessidade de o governo ter um instrumento para medir com eficácia a violência.

O futuro sistema de informações sobre segurança pública do governo deve reunir em tempo real dados sobre a violência em todos os estados. Atualmente, segundo a secretária, os estados não conseguem repassar para o governo federal todas as informações de boletins de ocorrência. “Precisamos de dados atualizados para a política funcionar”, explicou.

Júlio Jacobo também defendeu mais disponibilidade de dados. “Não temos o foco de segurança se não tivermos um bom sistema de informações.” Segundo ele, a transparência nos dados de segurança pública em alguns estados tem ajudado a responsabilização e consequente queda nos dados de violência.

Segundo o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), que também solicitou o debate, o governo precisa ter um instrumento de medição para balizar e analisar os objetivos do setor de segurança pública a fim de melhor destinar recursos para combater a violência.

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Marcos Rossi

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