Saúde

Parlamentares da bancada feminina defendem respeito a parteiras

08/05/2014 - 20:28  

Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Quintas femininas: debate sobre a atividade das parteiras tradicionais. Presidente da Rede Estadual das Parteiras do Amapá, Maria Luiza Dias
Maria Luiza Dias, parteira no Amapá, ela conta que já realizou 221 partos em 30 anos de trabalho.

As bancadas femininas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, e o Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher da Universidade de Brasília promoveram nesta quinta-feira (8) mais uma edição do projeto quintas-femininas.

A cada quinze dias, elas se reúnem para debater assuntos de interesse da mulher. O encontro dessa semana foi sobre o Dia Internacional das Parteiras Tradicionais. A data é comemorada em 5 de Maio, e foi instituída em 1991 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que vê nessa prática uma forma eficiente de reduzir a mortalidade e melhorar a vida da mãe e do bebê.

Maria Luiza Dias, parteira no Amapá, começou a aprender o ofício com 19 anos, ajudando sua avó e sua mãe, que também eram parteiras. Trinta anos depois, ela conta que já realizou 221 partos e diz que só de apalpar a barriga, já consegue identificar se a mulher está grávida e com quantos meses de gestação. “Muitas vezes o próprio marido não sabe que ela está grávida. Mas ela vem até mim contar que parou de menstruar e que está sentindo uns enjoos. E quer confirmar se está grávida. Fazemos a apalpagem e dizemos se está com dois, três meses.”

Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Quintas femininas: debate sobre a atividade das parteiras tradicionais. Professora da UnB, Silvéria Santos
Silvéria Santos: é preciso respeitar o conhecimento da arte de partejar, que passa de geração em geração.

Para a Professora da Universidade de Brasília, Silvéria Santos, é preciso respeitar o conhecimento da arte de partejar, que passa de geração em geração. Ela enfatiza que muitos conhecimentos médicos, reconhecidos pela ciência, foram descobertos pelas parteiras. “Todo conhecimento que se tem em Ginecologia e Obstetrícia começou com a atuação das parteiras, porque eram elas que adentravam os lares, adentravam a intimidade, iam aos corpos das mulheres para conhecer, para identificar, para dar nome, para observar os fenômenos e a fisiologia do corpo das mulheres. Então a gente precisa louvar e tirar essas mulheres do anonimato.”

Estima-se que existam 60 mil parteiras no Brasil, principalmente nas comunidades mais distantes dos centros médicos e também nas periferias e centros urbanos.

Parto humanizado
A servidora pública Luciana Rodovalho optou pelo parto humanizado e apoia o trabalho das parteiras. Ela deu a luz à Helena em casa, no quarto da criança, dentro de uma piscina improvisada. “Foi o momento mais feliz da minha vida. Nós fomos respeitadas. Minha filha nasceu e veio para os meus braços, mamou logo. O cordão umbilical só foi clampeado depois que parou de pulsar, o bebê não recebeu aquela luz forte no rostinho e nem precisou passar por procedimentos desnecessários, como pingar colírios agressivos no olho ou apanhar no bumbum.”

A jornalista Vanessa Oliveira, que é mãe de Javier, também escolheu o parto humanizado, porém realizado no hospital. Ela diz que na hora de dar a luz, foi induzida pelos médicos a abandonar a opção de parto normal. Tempos depois, Vanessa descobriu que tinha sido enganada pelo obstetra.

Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Dep. Janete Capiberibe (PSB-AP) fala da importância da atividade das parteiras
Janete Capiberibe garantiu que vai trabalhar pela aprovação da proposta que regulamenta a profissão de parteira.

Ela acredita que Javier teve problemas de saúde em decorrência da cesariana. “Ele acabou tendo várias complicações graças a uma cesariana que não era pra ter sido feita. Eu já tinha sido informada sobre o parto humanizado, também li bastante coisa durante a gravidez, mas quando chega na hora H, se você não tem uma equipe que de fato é humanizada, eles podem utilizar qualquer argumento para simplesmente facilitar a vida deles.”

Projeto na Câmara
O projeto de lei 7531/06, que regulamenta a atividade das parteiras tradicionais, está sendo analisado na Câmara, mas foi rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família.

A deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) garantiu que vai trabalhar pela aprovação da matéria, que, segundo ela, enfrenta resistência no Congresso. “Precisamos reconhecer a parteira como trabalhadora com direitos como qualquer outro trabalhador. Vou continuar lutando, apesar da resistência enorme no Congresso Nacional, pela a regulamentação da atividade”.

Reportagem - Marcelo Westphalem
Edição – Regina Céli Assumpção

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.


Sua opinião sobre: PL 7531/2006

Íntegra da proposta