Saúde

Para especialista, descriminalização de drogas não altera consumo

Dados de observatório europeu mostram que, na Itália e na Inglaterra, a incidência do uso de drogas não aumentou nem diminuiu com maior tolerância legal. Especialistas defendem tratamento dos dependentes e são contra punição.

05/07/2010 - 19:00  

A descriminalização do uso de drogas não tem efeito sobre o consumo de substâncias ilícitas, afirma o médico integrante do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) Gregor Burkhart. Segundo ele, desde o início da última década, quando países europeus passaram a diminuir as penas impostas ou a flexibilizar a aplicação das normas contra usuários, as tendências de alta ou de queda no consumo entre as populações não sofreram nenhuma alteração. Burkhart participou, nesta segunda-feira, de seminário sobre políticas contra drogas no mundo promovido pela Comissão de Seguridade Social e Família.

Dois exemplos claros, segundo Burkhart, são a Inglaterra e a Itália. Neste, já se observava uma tendência de alta no consumo de drogas, que foi mantida após a flexibilização das normas contra usuários. Na Inglaterra, as estatísticas nacionais já apontavam a diminuição do consumo, que se manteve na mesma velocidade após o aumento da tolerância com os usuários na última década.

Para o especialista, aparentemente os usuários não têm medo de ser penalizados pelo consumo. “O uso de drogas é um fenômeno complexo, em que fatores culturais têm muito mais efeito que simples normas legais”, explicou Burkhart.

Dados do OEDT mostram que o consumo de drogas lícitas, como álcool e tabaco, segue as mesmas tendências do consumo de drogas ilícitas nas países do continente. Segundo o estudo, Alemanha e Reino Unido, por exemplo, apresentam alto consumo de todos os tipos de substância, enquanto que na Finlândia e na Grécia as taxas de consumo são baixas. “Isso mostra que a aceitação social do consumo e a valorização de determinados comportamentos sociais são muito mais importantes na incidência das drogas”, afirmou.

Tratamento x punição
O psiquiatra e representante da Associação Psiquiátrica Americana Eduardo Kalina, que também participou do seminário, afirmou que os governos devem investir em políticas especializadas para diminuir o consumo de drogas. Segundo ele, os usuários precisam de tratamentos promovidos por profissionais atentos ao seu ambiente social. “As drogas têm sucesso porque, para os viciados, são uma chave ao mundo mágico onipotente da fantasia, em que eles podem ser quem quiserem – por isso, devemos garantir um tratamento amplo, inclusivo”, afirmou.

Para o presidente da Fundação Villa Maraini (Itália), Massimo Barra, os governos devem evitar políticas punitivas contra toxicodependentes. “Colocar um viciado na prisão é o mesmo que colocá-lo em uma universidade da criminalidade. Um consumidor de drogas é, em geral, mais prejudicial para si próprio que para os outros”, disse o especialista.

Gregor Burkhart também defende que o caminho para a diminuição do consumo de substâncias ilícitas passa pelo tratamento especializado dos usuários, longe das prisões. “A ideia é cada vez mais buscar tratamentos específicos para grupos de risco e regiões mais afetadas pelas drogas”, afirmou.

O seminário prossegue nesta terça-feira, das 9h30 às 12 horas.

Reportagem – Carolina Pompeu
Edição - Patricia Roedel

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