Política e Administração Pública

CPMI do Cachoeira quebra os sigilos dos governadores de Goiás e do DF

Comissão decidiu adiar a convocação do ex-diretor-geral do Dnit Luiz Antônio Pagot e do ex-presidente da empreiteira Delta, Fernando Cavendish.

14/06/2012 - 14:24  

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira aprovou nesta quinta-feira a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), por um período relativo a dez anos – o mesmo das demais quebras de sigilo já aprovadas.

Os dois governadores já depuseram na CPMI, na condição de testemunhas, e negaram qualquer vínculo com o contraventor Carlinhos Cachoeira.

Convocações adiadas
Também foi aprovado o adiamento da convocação do ex-presidente da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot.

Leonardo Prado
Dep. Odair Cunha (relator)
Adiamentos foram propostos pelo relator Odair Cunha.

Em ambos os casos, o adiamento foi proposto pelo relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG). Ele argumentou que precisa de tempo para analisar os documentos em poder da CPMI. "Isso não afasta a possibilidade de ouvirmos os dois, mas não neste momento", disse.

No caso de Pagot, que vem anunciando à imprensa o seu desejo de depor, Odair Cunha afirmou que, se ele tiver denúncias a fazer, poderá procurar a Polícia Federal. Para o relator, os defensores da vinda do ex-diretor querem usá-lo com fins políticos e partidários.

As duas votações foram polêmicas. O placar da votação sobre Cavendish foi de 16 votos a 13, prevalecendo a posição do relator.

A Delta é apontada pela Polícia Federal como um dos principais braços do esquema de corrupção do contraventor Carlinhos Cachoeira.

Pagot
O placar da votação sobre o depoimento de Pagot foi de 17 votos a 13. O senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que Pagot "é um fio desencapado e está desperado para falar". Ele afirmou que há parlamentares com medo desse depoimento.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) defendeu o adiamento da convocação. "Esta CPI tem foco. Chamar o Pagot aqui é para discutir contribuições de campanha. Isso não é foco desta CPI. Temos que examinar a organização criminosa do senhor Cachoeira", disse.

Escutas telefônicas da Polícia Federal indicam que o contraventor Carlinhos Cachoeira articulou a demissão de Pagot, por contrariar seus interesses. Pagot foi afastado do cargo após uma série de denúncias de corrupção no órgão, que derrubaram também o então ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, do PR, e abriram uma crise política entre o partido e a presidente Dilma Rousseff. Nascimento reassumiu o cargo de senador.

Delta
Licenciado da presidência do conselho de administração da Delta desde o dia 25 de abril, Cavendish vai permanecer afastado do comando da empresa enquanto durar o seu processo de reestruturação.

A Delta é uma das principais empreiteiras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e se diz vítima de "bullying empresarial". Ela é apontada pela Polícia Federal como um dos braços empresariais de Cachoeira, pelo menos a parte da empresa que opera no Centro-Oeste.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um dos autores do pedido de convocação, ressaltou que há indícios de que a Delta pagava suborno, e fez insinuações de que o público verá os adiamentos como comprometimento com a Delta. O líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), reagiu, e voltou a dizer que o foco da CPMI não tem ligação, pelo menos até este momento, com Pagot ou Cavendish.

Em crise desde que a Operação Monte Carlo revelou as ligações de executivos da construtora com Cachoeira, a Delta protocolou no início deste mês, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o pedido de recuperação judicial - instrumento jurídico usado por empresas em dificuldades financeiras e anteriormente chamado de concordata.

Na última quarta-feira, a Controladoria Geral da União (CGU) declarou a inidoneidade da Delta, o que impede a empresa de assumir novos contratos com o Poder Público. A Delta deve recorrer da decisão.

(*) Matéria atualizada às 16h19.

Reportagem – Marcello Larcher
Edição – Wilson Silveira

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