Política e Administração Pública

Versões sobre compra de casa de Perillo dividem opiniões na CPMI do Cachoeira

Para alguns parlamentares, a situação do governador de Goiás, Marconi Perillo, se complicou. Para outros, a transação imobiliária da casa onde foi preso o contraventor Carlinhos Cachoeira já está esclarecida. Já o relator da CPMI cogita a hipótese de o governador ter recebido duas vezes pela venda da casa.

05/06/2012 - 17:30  

Leonardo Prado
Walter Paulo de Oliveira Santiago (reitor do Centro de Ensino Regional Tocantins Araguaia-CETA)
Walter Paulo Santiago explicou na CPMI a compra de um imóvel do governador goiano, Marconi Perillo.

As versões sobre o depoimento do empresário Walter Paulo Santiago, nesta terça-feira, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga o esquema do contraventor Carlos Cachoeira dividiram as bancadas que integram o colegiado. Para os defensores do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o depoimento mostrou sua inocência, mas, para outros parlamentares, o depoimento complicou o governador.

O empresário, um dos proprietários da Faculdade Padrão, comprou do governador um imóvel no condomínio Alphaville Ipês, em Goiânia, no valor de R$ 1,4 milhão. Nesta casa, Cachoeira foi preso no final de fevereiro durante a operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF). Integrantes da CPMI suspeitam de que Cachoeira seria o verdadeiro comprador, com o empresário Walter Santiago operando como intermediário para esconder a transação.

Walter negou essa versão e disse que comprou a casa para uma de suas empresas, a Mestra Administração e Participações, criada para atuar no ramo imobiliário. Ele disse que pagou a casa em dinheiro, embora Marconi Perillo tenha dito que recebeu o pagamento por meio de três cheques. Esses cheques são de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira, de acordo com as investigações da PF. "Se [o governador] recebeu em cheques, não foram dados por mim", disse o empresário.

Defesa de Perillo

Saulo Cruz
Dep. Carlos Sampaio (PSDB/SP)
Carlos Sampaio: negativa do empresário mostra que Perillo não está envolvido com Cachoeira.

Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), a negativa de Walter deixa claro que Perillo não está envolvido com o esquema. “Em nenhum momento, o governador participou das negociações e teria agido de boa-fé”, diz Sampaio.

O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) também defendeu Perillo. Ele acredita que o esclarecimento desta terça-feira foi suficiente: “Ficaram claras as formas como o dinheiro partiu e chegou à conta do governador.”

Para Walter, quem trocou o dinheiro por cheques pode ter sido Wladimir Garcez, ex-vereador pelo PSDB, ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia e acusado pela PF de integrar a quadrilha de Cachoeira. Garcez intermediou a compra e admitiu à CPMI ter oferecido o imóvel em nome de Perillo. Com eles, no momento do pagamento, estava Lúcio Fiúza Gouthier, assessor do governador que, segundo Walter Santiago, o representava na negociação.

‘Situação de Perillo se complicou’

Leonardo Prado
Dep. Silvio Costa (PTB-PE)
Silvio Costa: Marconi Perillo diz ter recebido em cheques, e Walter Santiago diz ter pago em dinheiro.

Para o deputado Silvio Costa (PTB-PE), não é possível acreditar que Walter tenha pagado em dinheiro, quando o governador diz ter recebido em cheques. Principalmente, observa o parlamentar, por envolver uma quantia muito grande.

Na avaliação do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), “a situação do governador Perillo se complicou, porque pode ser que esse dinheiro depositado não seja para o pagamento da casa”.

O relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou que o depoimento de Walter Santiago aumentou as suspeitas sobre a transação imobiliária. Ele vê uma série de contradições que evidenciam duas hipóteses. Na primeira hipótese, alguém está mentindo nessa história; na segunda, o governador Marconi Perillo pode ter recebido duas vezes pela venda do imóvel: uma vez pelo montante em dinheiro que Walter Paulo diz ter pagado, e outra, pelos três cheques que o governador diz ter recebido. “Isso reforça a tese de que os sigilos do governador goiano têm que ser quebrados”, afirma Odair.

Origem do dinheiro
Mas, no entender de parlamentares, o que Walter Santiago não conseguiu explicar foi a origem do dinheiro e por que Cachoeira estava morando em sua propriedade. Segundo o empresário, os recursos eram “sobras” de outras empresas, que ele foi juntando ao longo dos seis meses em que duraram as negociações para a aquisição da casa.

Também de acordo com o empresário, foi Garcez quem pediu, no momento da venda, o empréstimo da casa para “uma amiga”. A amiga era Andressa Mendonça, esposa de Cachoeira, e o empréstimo, inicialmente com prazo de 45 dias, durou sete meses, até que o contraventor fosse preso.

Por sua vez, a empresária Sejana Martins, que também depôs hoje à CPMI, disse que se desligou da empresa Mestra Administração e Participações no dia 6 de julho de 2011 e que não tinha conhecimento das negociações envolvendo a compra da casa de Perillo.

Ligações

Beto Oliveira
Dep. Rubens Bueno (PPS-PR)
Rubens Bueno: há mais ligações entre o empresário Walter Paulo e o contraventor Carlinhos Cachoeira.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) acredita que haja outras ligações entre Walter Santiago e o esquema de Cachoeira. Segundo ele, há diálogos em que Cachoeira pede intervenção de políticos em favor das faculdades do empresário e pelo menos uma cobrança ao senador Demostenes Torres (Sem partido-GO) para que ele tentasse a liberação de um curso junto ao Ministério da Educação.

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) também acredita que há mais ligações entre o empresário e o esquema do contraventor. Ele disse que há uma área do Country Club de Goiânia alugada em comodato para Walter e outros sócios, com a participação de Cachoeira.

Depoimento de Perillo
Perillo deve depor na próxima terça-feira (12) à CPMI e poderá explicar sua versão sobre os fatos, que ficou conhecida numa entrevista que deu a um jornal de Goiânia. “Vamos ver o que o governador tem a dizer, porque, até lá, não é possível nenhum julgamento”, avaliou o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR).

Reportagem – Marcello Larcher
Edição – Newton Araújo

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