Política e Administração Pública

Alencar: trajetória admirada por políticos e empresários

De balconista a dono de uma dos maiores grupos têxteis do País. No Planalto, uma voz discordante da política de juros.

29/03/2011 - 20:57  

Janine Moraes
J Alencar Homenagem Câmara
José Alencar em sessão solene na Câmara, em abril passado.

"Eu não tenho medo da morte, eu tenho medo da desonra, porque um homem público deve ter medo da desonra." Assim o ex-vice-presidente José Alencar definia seus sentimentos ao falar do câncer que combatia há 13 anos, que o fez passar por 17 cirurgias e tratamentos dolorosos, mas que nunca lhe tirou a coragem, nem venceu sua esperança e seu bom-humor.

No final do ano passado, enfraquecido, seu maior desejo era vir a Brasília em janeiro participar da posse de Dilma Rousseff como presidente da República. Desistiu, atendendo aos médicos e a um pedido da mulher, Mariza Gomes da Silva. Assistiu à cerimônia pela televisão e, fiel ao protocolo, vestiu terno e gravata. Aos jornalistas, explicou que não iria à posse e disse que sua missão estava "cumprida".

Vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva durante oito anos, José Alencar Gomes da Silva nasceu em um povoado às margens da pequena cidade de Muriaé, em Minas Gerais, em 17 de outubro de 1931. Ele foi o 11º de 15 irmãos e começou a trabalhar muito cedo, aos 7 anos de idade, como vendedor na loja do pai. Aos 15 anos, foi trabalhar em Muriaé, onde conseguiu um emprego de balconista na loja de tecidos "A Sedutora". O que ganhava, contou mais tarde, mal dava para pagar o aluguel do quarto onde morava.

Comerciante aos 18 anos
Aos 18 anos, estabeleceu-se como comerciante, com a lojinha "A Queimadeira", onde se vendia de tudo: tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas e sombrinhas. Depois, foi viajante comercial, atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão, atacadista de tecidos e industrial do ramo de confecções.

Sucesso empresarial
Em 1967, em parceria com o empresário e então deputado Luiz de Paula Ferreira, da área de beneficiamento de algodão, fundou em Montes Claros a Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas, hoje um dos maiores grupos industriais têxteis do Brasil. A Coteminas tem 11 unidades industriais em quatro estados – Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina – e uma na Argentina. As 12 fábricas produzem e distribuem fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis, vendidos no mercado interno, nos Estados Unidos, na Europa e em países do Mercosul.

O sucesso empresarial rendeu a Alencar influência no meio. Esteve à frente de várias entidades ligadas ao comércio e à indústria, sendo os cargos mais importantes o de presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Faemg) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Sucesso na política
A carreira política de José Alencar começou com a candidatura ao governo de Minas Gerais, em 1994, pelo PMDB. Não foi vitorioso, mas, dois anos depois, elegeu-se senador, ainda pelo PMDB, com quase três milhões de votos. Atualmente integrava o PRB.

No Senado, foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura, e integrante das comissões permanentes de Assuntos Econômicos e de Assuntos Sociais.

O passo mais importante na carreira política, no entanto, ocorreu nas eleições presidenciais de 2002. Integrante do então PL (hoje PR), José Alencar foi vice na chapa vencedora do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. No início, foi uma voz discordante no governo quanto à política de juros conduzida pela equipe econômica. As criticas dirigiam-se principalmente às taxas de juros, que por diversas vezes classificou como "criminosas".

A pedido de Lula, em 2004 passou a acumular os cargos de vice-presidente e de ministro da Defesa, cargo que ocupou até março de 2006. Também naquele ano, a chapa Lula-Alencar disputou e venceu mais uma vez as eleições. O vice, mesmo doente, permaneceu no mandato até o final.

Homenagem no Congresso
No ano passado, José Alencar veio ao Congresso duas vezes: em 2 de fevereiro de 2010, quando discursou – como vice-presidente da República – durante a cerimônia de abertura dos trabalhos legislativos; e em 27 de abril, quando, homenageado em sessão solene na Câmara, emocionou a todos ao lembrar a importância dos pais, Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, em sua história de vida. "Eles me deram tudo, ainda que não tivessem nada", disse.

Casado com Mariza Campos Gomes da Silva, Alencar tinha três filhos (Maria da Graça, Patrícia e Josué) e cinco netos: Ricardo, Geovana, Barbara, Josué e Davi.

Da Reportagem/ RCA

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