Política e Administração Pública

Ibsen Pinheiro faz discurso de despedida e diz: só a Câmara representa a todos

08/12/2010 - 18:37  

Arquivo - J. Batista
"Talvez tenha desgosto de pedir dinheiro e a ficha do doador, porque serei associado aos seus negócios."

O deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) despediu-se hoje da Câmara, com um pronunciamento que recebeu 19 apartes, transformando o discurso em uma homenagem ao político gaúcho que já foi presidente da Casa e, neste ano, desistiu de concorrer ao quinto mandato como deputado federal. Aplaudido pelos colegas, Ibsen chorou e foi abraçado pelos parlamentares ao deixar a tribuna.

Ibsen Pinheiro contou que, tomada a decisão de não disputar nova eleição, passou a ser questionado se havia se "desencantado" com a Câmara. "Eu costumo dizer, em defesa desta Casa, que não é preciso inventar defeitos para o Legislativo – eles são verdadeiros. Mas que gostaria apenas que as demais instituições públicas tivessem o mesmo escrutínio", disse.

"De uma certeza não me afasto nunca: a Câmara pode ser malfalada por mil defeitos que tenha, mas todo esse sentimento negativo decorre da virtude singular desta Casa: só a Câmara representa a todos. E, sendo a Casa de todos, não é a de ninguém", afirmou Ibsen, esclarecendo em seguida não ter se desencantado com a política. "Faço questão de dizer que não há nenhuma dose de desencanto com a vida pública. Talvez tenha rejeitado o modelo eleitoral. Talvez tenha desgosto ou falta de gosto de disputar uma eleição em que tenha que pedir dinheiro, e agora pedir a ficha do doador, porque serei associado aos seus negócios. Talvez tenha rejeitado o modelo da disputa, não o exercício da vida pública", explicou.

Homenagens
O segundo-secretário da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que presidia a sessão, lembrou uma das recentes propostas de Ibsen - um dos autores da emenda que estendeu a distribuição dos royalties do pré-sal a todos os estados e muinicípios. "Mesmo que ela venha a ser vetada, derrubaremos o veto. Assim, teremos um novo processo para diminuir as desigualdades tão profundas existentes no Brasil", afirmou.

Ex-presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) destacou os compromissos e a atuação parlamentar do colega gaúcho. "Há um grupo muito pequeno, muito restrito, capaz de elevar a tribuna da Câmara. O deputado Ibsen Pinheiro integra esse grupo seleto de homens públicos, pelo pensamento, pelas ideias e pelo compromisso com o País e com o povo".

Para Roberto Magalhães (DEM-PE), Ibsen "é um exemplo marcante de como um homem pode enfrentar as dificuldades, sair delas muito maior e vir novamente à Câmara de cabeça erguida, dar uma lição extraordinária de vida". Na avaliação de José Genoino (PT-SP), "quem vive intensamente as coisas e coloca a sua vida naquilo que faz, como Ibsen, conhece, em intervalos da vida, a poesia e o sangue da política". O deputado, que será suplente na próxima legislatura, lamentou a despedida. "Mas eu também vou ter de me despedir nesta tribuna", ressalvou.

Mauro Benevides (PMDB-CE), que afirmou ter tentado demover Ibsen da decisão de não concorrer às eleições, também lamentou a despedida do colega, com quem conviveu quando foi senador e presidente do Congresso, na década de 90.

Os deputados Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) e Germano Bonow (DEM-RS) homenagearam Ibsen Pinheiro em nome de seus partidos. Também exaltaram a vida pública do parlamentar gaúcho os deputados Marcondes Gadelha (PSC-PB), Silvio Costa (PTB-PE), Eliseu Padilha (PMDB-RS), Edgar Moury (PMDB-PE), Manuela D'ávila (PCdoB-RS), Albano Franco (PSDB-SE), Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), Marcelo Castro (PMDB-PI), Vieira da Cunha (PDT-RS), Fernando Chiarelli (PDT-SP), Marcelo Ortiz (PV-SP) e Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA).

Os senadores Pedro Simon (PDMB-RS), Paulo Paim (PT-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF) vieram ao plenário da Câmara acompanhar o pronunciamento.

Trajetória
Ibsen Pinheiro, que completou 75 anos em julho, filiou-se ao MDB em 1966 e está no PMDB desde a fundação do partido, em 1980. Foi vereador em Porto Alegre, deputado estadual no Rio Grande do Sul e exerceu quatro mandatos na Câmara, inclusive como constituinte.

No biênio 1991-92, presidiu a Casa em meio ao processo de impeachment de Fernando Collor. Em 1994, teve o mandato cassado no contexto da CPI do Orçamento. Em 2000, o Supremo Tribunal Federal arquivou o processo decorrente do episódio. Em 2004, o jornalista que o envolveu no escândalo reconheceu publicamente o erro.

"Curei-me do sofrimento porque compreendi que a vida pública é o espaço da convivência indispensável. Por maior respeito que tenhamos todos à privacidade de cada um de nós, a história dos povos se conta pela vida pública das suas figuras", declarou Ibsen, lembrando dois episódios marcantes vividos na Câmara, ambos no seu primeiro mandato: a derrota das Diretas-Já, em 1984, e a eleição de Tancredo Neves, em 1985, que encerrou o período da ditadura militar no Brasil.

Reportagem - Ralph Machado
Edição - Rosalva Nunes

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