Política e Administração Pública

Divergências sobre as moções dominaram os debates em Plenário

23/03/2010 - 22:19  

No debate sobre as moções relativas a Cuba votadas nesta terça-feira, os partidos mais à esquerda — PT, PSB, PCdoB, PDT e Psol — recusaram apoio aos presos em greve de fome no país, chamando a atenção para o risco de dar eco à campanha internacional que sustentam estar em marcha para reforçar o bloqueio contra Cuba. Eles também consideraram que o autor da moção, deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), não tem legitimidade para falar sobre direitos humanos.

Em contraposição, o DEM, o PSDB, o PPS e o PV negaram solidariedade aos cinco cubanos presos nos Estados Unidos há mais de dez anos — tema da moção apresentada pela deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). "Eles são acusados de espionagem; é necessário mais conhecimento deste caso", disse Fernando Gabeira (PV-RJ), acrescentando haver muita diferença entre a condição de preso nos Estados Unidos e em Cuba. "Nos Estados Unidos o preso tem acesso a advogado, a visitante, e em Cuba não", comparou.

O 1º vice-líder do PDT, deputado Brizola Neto (RJ), foi incisivo contra a moção encabeçada por Bolsonaro: "Ele defendeu o regime de exceção [a ditadura militar de 1964-1985] e hoje tem na porta do seu gabinete um cartaz que diz que a questão dos ossos dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia deve ser resolvida pelos cachorros", afirmou. "Não pode ser séria uma moção como esta vindo de um notório desrespeitador dos direitos humanos", acrescentou.

O líder do PT, Fernando Ferro (PE), advertiu que não se pode "ampliar o bloqueio anti-cubano", lembrando a tradição brasileira de respeito à autodeterminação dos povos. Ferro disse que a moção tem a ver com a recente visita do presidente Lula a Cuba, e lamentou que setores da oposição estejam, segundo ele, se aproveitando do infortúnio de presidiários cubanos em greve de fome para fazer luta política.

O vice-líder do PTB Silvio Costa (PE) qualificou a moção de agressão ao presidente Lula. "É brincadeira, é um desrespeito a esta Casa, pois o deputado Bolsonaro não tem legitimidade para falar sobre direitos humanos", afirmou Costa.

Reação
Em resposta, Bolsonaro desafiou quem o critica a abrir representação contra ele, "para ver se eu tenho ou não moral para permanecer nesta Casa". E acusou Brizola Neto de ser um "pobre coitado que defende o ditador Fidel Castro, o mesmo que chamava seu avô [Leonel Brizola] de Don Ratón, por ter desviado para comprar fazendas no Uruguai o dinheiro que Cuba mandou para a guerrilha do Caparaó".

Em seguida, Bolsonaro elogiou Gabeira por ter negado apoio aos cinco cubanos presos nos Estados Unidos. "São presos comuns acusados de espionagem; se estivessem sofrendo injustiças, os mais de um milhão de cubanos que vivem nos Estados Unidos já teriam se manifestado", disse.

O líder do PSDB, João Almeida (BA), elogiou apenas a moção de Bolsonaro. "Envolver outras questões é querer fugir do tema", disse, referindo-se à proposta de Vanessa Grazziotin. O vice-líder do PSDB Antonio Carlos Pannunzio (SP) qualificou a moção da deputada de manobra diversionista. "O bloqueio contra Cuba é extemporâneo e não tem mais sentido manter a base de Guantânamo, mas os cinco cubanos foram condenados por crime comum, não são presos políticos", sustentou.

Atentados
Já o líder do Psol, deputado Ivan Valente (SP), considerou "uma vergonha a oposição deixar-se comandar nessa moção por alguém que defende o pau de arara, os assassinatos, os desaparecimentos". Segundo ele, os cinco cubanos estão presos porque impediram atentados contra Cuba planejados nos Estados Unidos.

O 1º vice-líder do PR, Lincoln Portela (MG), disse que "nem Cuba nem os Estados Unidos têm a mínima moral para falar de direitos humanos".

Reportagem - Luiz Claudio Pinheiro
Edição – João Pitella Junior

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