Economia

Indústria quer manter aditivos que tornam fumo mais atrativo

Deputado da Frente da Agropecuária afirma que proibição prejudicará fumicultores, mas médicos ressaltam risco que o açúcar no cigarro causa à saúde. O assunto será discutido no Uruguai ainda neste mês.

05/11/2010 - 15:26  

Arquivo - Laycer Tomaz
Heinze: proibição prejudicará diretamente 50 mil produtores de fumo burley.

Parlamentares ligados aos fumicultores e à indústria do fumo se mobilizam para impedir a proibição de adição de alguns produtos aos cigarros, entre eles o açúcar e a amônia.

Esses produtos são utilizados pelos fabricantes para tornar o cigarro mais atrativo e menos irritante aos fumantes. Os médicos, no entanto, alertam para os perigos desses aditivos.

O Canadá está pressionando os participantes da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP 4) a impor limites. A conferência será realizada de 15 a 20 de novembro, em Punta del Este, no Uruguai.

Sem prejuízos
O deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária, espera que os representantes do governo brasileiro na conferência levem ao encontro uma posição oficial que não prejudique os fumicultores.

"Estamos trabalhando junto ao Ministério da Agricultura, que já é favorável à nossa posição, ao Ministério das Relações Exteriores e à Casa Civil, porque existe a contrariedade do Ministério da Saúde e do Ministério do Desenvolvimento Agrário", explica o parlamentar.

De acordo com Heinze, a proibição da adição de substâncias ao cigarro prejudicará diretamente 50 mil produtores do fumo tipo burley do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina, e a indústria fumageira nesses estados.

Como o tabaco burley é curado ao ar livre, perde os açúcares naturais. Com isso, a fumaça do cigarro se torna mais irritante e o sabor do tabaco mais forte. Para tornar esse tabaco mais atrativo, é necessário adicionar açúcar.

Substância cancerígena
Entretanto, a médica Tânia Cavalcante, alerta para o perigo do açúcar nos cigarros. Ela atua na coordenação da Secretaria Executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro do Controle do Tabaco - um grupo interministerial.

"O açúcar, quando queimado, se transforma em acetaldeído. E o acetaldeído é uma substância neurotóxica e cancerígena que tem o efeito de aumentar o poder da nicotina de causar a dependência", ressalta.

Segundo a médica, essa atuação nociva está descrita em vários estudos científicos. "Por isso, países como o Canadá e os Estados Unidos já adotaram medidas para proibir os aditivos nos cigarros."

Desemprego
Em favor dos aditivos, Heinze argumenta ainda que os pequenos produtores de fumo, que plantam em propriedades de até quatro hectares, seriam grandemente prejudicados pela proibição.

Mas, segundo a médica Tânia Cavalcante, depois de diversos estudos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial declaram que o nível de emprego na produção do tabaco não é afetado, nem a curto, nem a médio prazo, por programas de controle do tabaco.

A longo prazo, a Convenção-Quadro recomenda que fontes alternativas de emprego devem ser previstas para compensar uma eventual queda de emprego nas lavouras de fumo. A Convenção foi proposta pela OMS e ratificada pelo Brasil em 2006. É o primeiro tratado internacional sobre saúde pública já feito no mundo.

Reportagem - Renata Tôrres / Rádio Câmara
Edição - Natalia Doederlein

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