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Deputados divergem sobre cota nas universidades federais

Nova cota reserva metade das vagas das universidades federais para os alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas.

23/08/2012 - 12:59  

DEP EMILIANO JOSE CH 07122011
Emiliano José lembra que a maioria dos pobre é negra.

O deputado Emiliano José (PT-BA), integrante de movimentos sociais pela igualdade racial, comemorou a aprovação da reserva de metade das vagas de universidades federais para alunos de escolas públicas, com prioridade para negros, pardos e índios. Segundo ele, a medida ajuda a superar “o fosso que existe entre brancos e negros”.

Emiliano José afirmou que a desigualdade entre negros e brancos deve ser combatida com políticas específicas. “Vivemos quase quatro séculos de escravidão e ninguém passa por isso impunemente. Acreditar que só pela melhoria geral da educação, por exemplo, os negros iriam ascender é um equívoco muito grande”, argumentou.

No entanto, para o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), integrante da Comissão de Educação, a regra reforça o preconceito no País.

Arquivo/Brizza Cavalcante
Onyx Lorenzoni
Lorenzoni defende cotas sociais em vez de cotas raciais.

O parlamentar defende as chamadas cotas sociais, que levam em consideração somente critérios de renda, mas acredita que as cotas raciais tendem a aumentar a distância entre brancos e negros. “Só há uma raça, a raça humana. Trazer para o Brasil o debate da questão racial é importar uma questão que nunca nos afetou. O Brasil é o país da mistura, da miscigenação”, afirmou.

Raça
Onyx Lorenzoni disse ainda que a prioridade para os autodeclarados negros, pardos e índios pode prejudicar os brancos que enfrentam dificuldades financeiras. “Como será quando o menino é pobre e branco, filho de imigrantes poloneses, filho de índios que se misturaram com imigrantes europeus? Eu não vejo nenhum sentido em ‘racializar’ um País que é uma grande mistura e tem nessa mistura sua força”, disse.

Emiliano José discorda: “O branco que é pobre não fica de fora porque a lei de cotas privilegia os egressos das escolas públicas. O fato, no entanto, é que a maioria dos pobres é negra e isso precisa ficar claro”.

Mérito
Outra crítica levantada pelas pessoas contrárias à proposta é a possibilidade de desvalorização do mérito dos alunos na seleção para as universidades. O risco, segundo eles, é que o nível geral de ensino caia em razão dos novos alunos egressos da escola pública.

Para o assessor especial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Renato Ferreira, no entanto, a crítica é equivocada. “A proposta resguarda o mérito, já que todas as pessoas que ingressarão nas universidades serão submetidas a critérios de seleção. Além disso, o que se quer é conjugar a igualdade com a promoção da diversidade e o mérito, já que metade das vagas dessas instituições continua sendo preenchidas como antes”.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou ontem em entrevista coletiva que o governo deverá focar na melhoria do ensino médio e na preparação das universidades para receber os alunos da cota. Segundo ele, dois grupos de trabalho, formados respectivamente por secretários estaduais de educação e por reitores de universidades, deverão trabalhar com esses objetivos.

A ideia, de acordo com o ministro, é qualificar o ensino médio, inclusive com a reformulação do currículo, além de criar um sistema de “adaptação e nivelamento” dos alunos das cotas nas universidades.

Reportagem – Carolina Pompeu
Edição - Natalia Doederlein

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