Educação, cultura e esportes

Audiência vai discutir problemas da merenda escolar brasileira

01/08/2011 - 08:14  

A qualidade da merenda escolar distribuída aos alunos das escolas públicas brasileiras será discutida em audiência pública da Comissão de Educação e Cultura na quinta-feira (4). O debate foi proposto pela presidente da comissão, deputada Fátima Bezerra (PT-RN), e pela deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), com base em denúncias que o programa Fantástico, da Rede Globo, veiculou em maio sobre as condições do alimento oferecido às crianças.

A equipe do Fantástico visitou mais de 50 escolas públicas em São Paulo, em Goiás, no Rio Grande do Norte, na Paraíba e na Bahia e constatou problemas como a falta de merenda e de higiene na armazenagem dos alimentos. As refeições também não supriam as necessidades mínimas nutricionais dos estudantes. Além disso, foram apresentadas denúncias de corrupção no caso de terceirização das refeições.

Leonardo Prado
Fátima Bezerra
Fátima Bezerra: controle sobre verbas da merenda tem falhas.

Na audiência, Fátima Bezerra e Professora Dorinha esperam discutir formas de melhorar a fiscalização e o controle social do uso dos recursos da merenda, que são falhos na opinião das deputadas. “O Ministério da Educação repassa o dinheiro, mas o controle e a fiscalização ocorrem lá na ponta, nos municípios e nos estados, por meio dos conselhos de alimentação”, diz Fátima Bezerra.

“Nós precisamos estabelecer um sistema de monitoramento e de fiscalização. Infelizmente, a gente não tem visto como isso está sendo desenhado pelo governo federal, pelos estados e pelos municípios. Nossa responsabilidade é construir uma estrutura para que o dinheiro, que já é pouco, chegue e seja aplicado de maneira correta”, completa Professora Dorinha.

Orçamento
Atualmente, a União repassa a estados e municípios, dentro do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), R$ 0,30 por dia para cada aluno matriculado em turmas de pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos. As creches e as escolas indígenas e quilombolas recebem R$ 0,60 por aluno e as escolas de ensino integral, R$ 0,90.

O orçamento do programa para este ano é de R$ 3,1 bilhões. O objetivo é beneficiar 45,6 milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos. Desse valor, 30% devem ser investidos na compra direta de produtos da agricultura familiar.

O investimento dos recursos deve ser acompanhado pela sociedade, pelos conselhos de alimentação, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Secretaria Federal de Controle Interno (SFCI) e pelo Ministério Público.

Gustavo Lima
Profª Dorinha Seabra
Professora Dorinha: fiscalização não pode depender só da CGU.

A Controladoria-Geral da União (CGU), que ajuda a fiscalizar como o dinheiro é empregado, promove auditorias em municípios que são sorteados, mas não possui uma estimativa sobre o total de recursos desviados.

O que existem são exemplos de irregularidades, como a compra, pela prefeitura de Pimenta Bueno (RO), de frangos em quantidade suficiente para alimentar os alunos durante um ano inteiro, sendo que as escolas não tinham freezer para armazenar o produto. A CGU também constatou casos de superfaturamento e de escolas que não oferecem a merenda, por não receber os alimentos da prefeitura. Também já foram encontrados alimentos estragados ou fora do prazo de validade.

“Na minha opinião, precisa haver uma parceria com os tribunais de contas dos estados, da própria União, não só dependendo da CGU para essa fiscalização pontual. Precisa ter uma estrutura de orientação nas secretarias estaduais e municipais para o acompanhamento e a efetivação do conselho de controle social, porque hoje quase todos os conselhos são de faz de conta”, diz Professora Dorinha.

Convidados
Foram convidados para a audiência:
- o secretário federal de Controle Interno da CGU, Valdir Agapito Teixeira;
- o diretor de Auditoria da Área Social da CGU, José Gustavo Lopes Roriz;
- o procurador-geral da República, Roberto Gurgel;
- a presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho;
- a presidente do Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed), Maria Nilene Badeca da Costa;
- a coordenadora-geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar, Albaneide Peixinho;
- o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Roberto Ziulkoski;
- o secretário de Finanças da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Antonio Lisboa;
- o presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Yann Evanovick.

A audiência será realizada às 10 horas, no Plenário 10.

*Matéria atualizada em 02/08.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Pierre Triboli

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