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Cadastro positivo e concorrência podem reduzir juros dos cartões

Os juros cobrados pelo uso do crédito rotativo chegam a 10% ao mês. Segundo o Banco Central, em 2009, a cobrança atingiu 237,93% ao ano.

31/03/2010 - 15:32  

Veja trecho do programa Expressão Nacional da TV Câmara em que a proposta de implantação do cadastro positivo foi debatida.

A criação de um cadastro positivo — um banco de dados com informações sobre bons pagadores — aliada ao aumento da concorrência no setor de cartões de crédito pode contribuir com a redução das taxas de juros cobradas pelas operadoras, de acordo com representantes da indústria dos cartões que participaram nesta quarta-feira de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio.

O cadastro positivo já foi aprovado pela Câmara, em maio do ano passado, e está em análise no Senado.

Os juros cobrados pelo uso do crédito rotativo chegam a 10% ao mês. Em 2009, a cobrança atingiu 237,93% ao ano, segundo dados do Banco Central.

Cartões explicam juros
Segundo as operadoras de cartão de crédito, a taxa cobrada é superior à média do mercado porque as companhias não conseguem distinguir bons e maus pagadores — o que poderia ser revertido com a aprovação do cadastro positivo. "Hoje não há como definir de forma individualizada o quanto cada um pagará de juros", comentou o vice-presidente do Setor de Cartões de Crédito do Itaú Unibanco, Márcio Schettini.

A ausência de juros na fatura quitada integralmente é outra razão levantada pelos representantes do setor para as altas taxas. O presidente da Credicard Citi, Leonel Andrade, citou o exemplo dos Estados Unidos, onde os juros variam de 0,5% a 1,5% mesmo para quem paga a dívida integral. "A grande maioria dos brasileiros hoje é beneficiada pelo modelo que existe no Brasil", argumentou Andrade. Segundo ele, 80% dos clientes pagam integralmente a fatura no vencimento.

Schettini argumentou que as operadoras oneram a fatura de quem paga parte do valor ou quita a dívida com atraso para garantir uma taxa média compatível com as demais modalidades de empréstimo. Outro fator dos juros elevados, segundo ele, é a inadimplência, que após 60 dias chega a 7% dos usuários de cartão.

Concorrência
A concorrência também foi apontada pelos convidados como uma das saídas para conter os juros do cartão. O presidente da Cielo (ex-Visanet), Rômulo Dias, disse que a ampliação do número de empresas credenciadoras com máquinas que aceitam cartões de várias marcas vai favorecer consumidores e lojistas, que terão mais espaço para negociação.

Hoje, quatro grandes empresas (Cielo, Redecard, Hipercard e American Express) são responsáveis pela instalação de terminais de atendimento (5,5 milhões no País) no comércio, mas apenas a Redecard disponibiliza máquinas multimarcas. A Cielo começará a aceitar cartões Mastercard, além dos da bandeira Visa, a partir de julho.

Os comerciantes pagam por cada máquina que é instalada no estabelecimento. Com a convergência de bandeiras em uma só máquina, executivos querem simplificar o processo e ampliar a rede de atendimento no Brasil, atingindo as classes econômicas C e D.

Potencial de crescimento
Schettini destacou que o segmento de cartões de crédito tem potencial para expansão no Brasil. Ele disse que apenas 67% da população apta a obter crédito possui cartões. Segundo o executivo, o brasileiro utiliza o serviço dez vezes por ano — em outros países, a média chega a 60 vezes por ano. "Mas os números do setor demonstram o crescimento do uso de cartões de crédito", disse . Ele destacou que o volume de transações cresceu 576% entre 2000 e 2009, chegando a R$ 444 bilhões no ano passado. No mesmo período, o total de transações aumentou 455%, enquanto o número de cartões subiu 375%.

Reportagem - Rachel Librelon
Edição - Carol Siqueira

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