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Negros têm dificuldades para progredir nas Forças Armadas

28/11/2006 - 21:21  

O Exército brasileiro contou com apenas cinco generais negros ao longo de 358 anos de história, apesar da grande participação deles no contingente total. A informação faz parte de uma pesquisa do jornalista Sionei Ricardo Leão, cujos dados integram o documentário "Kamba Racê" sobre o papel dos negros na Guerra do Paraguai.

O documentário foi exibido nesta terça-feira na Câmara dos Deputados durante o Seminário "Os Negros nas Forças Armadas". A pesquisa que Sionei Leão desenvolve há cerca dez anos tem o objetivo de resgatar o papel histórico do negro nas Forças Armadas e de denunciar as dificuldades enfrentadas por eles na ascensão a patentes superiores. "Ter oficiais negros, almirantes na Marinha, brigadeiros na Aeronáutica e generais no Exército, é importante para a população negra se ver representada. As Forças Armadas têm que ter essa consciência, que são importantes para a auto-estima da população brasileira", disse o jornalista.

Os dados da pesquisa apresentada no documentário são inéditos, segundo Sionei, já que o Exército não registrou a participação dos negros entre os oficiais mais graduados. A falta de dados, afirmou, levou a imprensa a divulgar, em 1999, que o general Jorge Alves, promovido pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, era o segundo general negro de toda a história. "O Exército nunca teve a preocupação de catalogar essas informações", disse Leão.

Cotas militares
O jornalista Leandro Fortes, que também participou do seminário, afirmou que, apesar de existirem muitos negros nas Forças Armadas, eles ocupam postos subalternos. Para Fortes, há um mito de que a ascensão nas Forças Armadas é democrática. "Precisamos acabar com essa concepção hipócrita de que somos uma democracia racial. Temos que pensar como resolver isso discutindo, por exemplo, a política de cotas, inclusive, nas Forças Armadas."

O jornalista Sionei Leão acredita que somente por meio de debates e da pressão da sociedade será possível melhorar o acesso dos negros a postos superiores das Forças Armadas.

Inserção do negro
O senador Paulo Paim (PT-RS) disse que o evento também foi importante para promover a discussão da inserção do negro em outros setores, além do militar. O senador cobrou o debate pela Câmara do Estatuto da Igualdade Racial (PL 6264/05), já aprovado pelo Senado. "Aproveitei a oportunidade para trazer o tema do momento. Aqui no Brasil, eles fazem de conta que o estatuto não existe, mas ele está aí." O senador lembra que o estatuto trata de políticas nas áreas de saúde, trabalho, habitação, combate aos preconceitos e cotas. "Não entendo porque não é discutido", lamentou o senador.

Ajuste de contas
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que pediu a realização desse seminário, lembrou que origem da participação dos negros nas Forças Armadas, na Guerra do Paraguai, contribuiu para a formação de uma mentalidade democrática que levou ao fim da escravidão. Ele disse que eventos como esse são uma forma de realizar um "ajuste de contas" com a "nossa história, que não privilegia o papel dos negros". Para Jungmann o desconhecimento da história do negro contribui para a baixa auto-estima dessa população. O parlamentar propõe que se destaque essa parte da história para construção da identidade nacional. "A cultura democrática é a que se enraíza a partir das diferenças e para isso precisamos de instituições que promovam essa diversidade", completou.

Reportagem - Geórgia Moraes
Edição - Regina Céli Assumpção

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