Mourão confirma caixa dois na campanha de Azeredo

19/10/2005 - 21:49  

Primeiro depoente ligado aos partidos de oposição, o tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998, Cláudio Roberto Mourão da Silveira, confirmou o uso de caixa dois à sub-relatoria de Contratos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios. Ele admitiu, nesta quarta-feira, que utilizou na campanha recursos de empréstimos obtidos no Banco Rural pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do "mensalão", no valor total de R$ 11 milhões, dos quais apenas R$ 1 milhão foi pago.
O dinheiro teria sido repassado, por meio de transferências bancárias, a pessoas ligadas ao PSDB, PTB e PFL, partidos que compunham a coligação que apoiava a reeleição de Azeredo.
O publicitário Duda Mendonça, responsável pela propaganda da campanha, teria recebido um total de R$ 4,5 milhões, dos quais R$ 3,8 milhões tiveram origem em empréstimos de Marcos Valério e apenas os outros R$ 700 mil teriam sido regularmente contabilizados.

Azeredo não sabia
Mourão garantiu que Eduardo Azeredo, que perdeu a reeleição e hoje é senador e presidente do PSDB, só ficou sabendo da operação no final da campanha. Ele teria recriminado o tesoureiro e dito que não pagaria uma dívida que não reconhecia e nem tinha sido contabilizada.
O presidente da Confederação Nacional de Transportes, Clésio Andrade, que foi candidato a vice-governador na chapa de Azeredo, também foi inocentado por Mourão. Segundo o depoente, Andrade já não era sócio do empresário Marcos Valério na época e não teve qualquer participação nos empréstimos feitos pelo ex-sócio à campanha.

Diferenças e semelhanças
Durante o depoimento, oposicionistas e governistas tentaram estabelecer semelhanças e diferenças entre o caixa dois adotado em 1998 pelo PSDB mineiro e o esquema montado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Para o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), as declarações de Mourão deixam claras as coincidências entre os dois modelos e provam que as operações de Delúbio apenas copiaram o sistema adotado no passado pelos tucanos.
Já o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) fez uma série de perguntas ao tesoureiro para mostrar as diferenças entre os dois esquemas, que seriam:
- Os empréstimos de Marcos Valério ao PSDB, concedidos em julho e em setembro de 1998, coincidem com a campanha eleitoral daquele ano. Já os empréstimos ao PT, em fevereiro e setembro de 2003, e em janeiro de 2004, foram repassados fora de períodos de campanha.
- Em 1998, os recursos de Valério não teriam sido repassados a deputados estaduais de Minas Gerais. No Governo Lula, há a suspeita de que teriam sido usados no pagamento a deputados federais para votar a favor de projetos de interesse do Palácio do Planalto.
- Em Minas, o dinheiro não teria servido para o pagamento de advogados. Já o PT teria utilizado parte da verba na contratação de advogado para atuar no caso da morte do prefeito de Santo André.
- O PSDB também não teria pago peças publicitárias fora da campanha eleitoral com os recursos de Marcos Valério. O PT, segundo o publicitário Duda Mendonça, depositou em suas contas no exterior o pagamento de peças publicitárias feitas para o Governo Lula.

Contrato antigo
Eduardo Paes afirmou ainda que as agências de Marcos Valério trabalhavam para o governo mineiro desde 1984 e que Eduardo Azeredo só assumiu em 1995, sem fazer qualquer reajuste nos contratos. "Já no Governo Lula, Valério ganhou dois novos contratos", disse.
Para o parlamentar, ao fazer comparações com a campanha eleitoral de 1998 em Minas Gerais, o PT pretende convencer o País de que "o crime de caixa dois é aceitável porque todos o cometem".
Paes disse ainda que a investigação das campanhas eleitorais foge ao objeto da CPMI dos Correios e que elas deveriam ser investigadas por uma comissão de inquérito específica.

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Reportagem - Geórgia Moraes
Edição - Rejane Oliveira

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