Pedro Corrêa admite que PP recebeu R$ 700 mil

14/09/2005 - 17:23  

O presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), negou em seu depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos que seu partido tenha recebido R$ 4,5 milhões do PT por meio das contas do empresário Marcos Valério de Souza. Valério é acusado de ser o operador do "mensalão", suposto pagamento feito a deputados da base de apoio do governo para votar de acordo com interesses do Executivo.
Corrêa admitiu saques no valor de R$ 600 mil, feitos pelo chefe de gabinete da liderança do PP, João Cláudio Genu, na agência do Banco Rural, em Brasília, além do recebimento de R$ 100 mil, em espécie, pagos pela diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, em um hotel de Brasília. Qualquer outro saque feito por Genu, disse Corrêa, não teve autorização ou conhecimento do partido. Segundo o empresário Marcos Valério, Genu sacou um montante bem maior, de R$ 4,1 milhões.
O presidente do PP afirmou que a negociação do pagamento foi feita com o ex-tesoureiro petista, Delúbio Soares, e que ele não sabia que o dinheiro viria das contas de Marcos Valério.
Os R$ 700 mil, segundo Corrêa, foram usados para pagar parte dos honorários do advogado Paulo Goiás, que defende o deputado Ronivon Santiago (PP-AC) em 36 processos judiciais no Acre, movidos pelo PT. Doze desse processos foram arquivados. Entre outros crimes, Ronivon sofre processo de cassação no Tribunal Regional Eleitoral por compra de votos em seu estado.

Perseguição política
Corrêa disse que o PP pagou os honorários do advogado em quatro parcelas, a primeira de R$ 300 mil e as seguintes de R$ 200 mil cada uma, entre junho e setembro de 2003, somando R$ 900 mil. De acordo com o presidente do PP, a diferença de R$ 200 mil foi paga com recursos do próprio partido.
O acordo financeiro com o PT, de acordo com Corrêa, foi feito porque o PP, que apoiava o governo federal, era perseguido politicamente pelo PT no Acre.
Corrêa garantiu que nenhum centavo desse dinheiro foi para contas pessoais dele ou do PP, mas admitiu que os valores não foram declarados. "Esse dinheiro não foi contabilizado porque o PT não esclareceu sua origem, prometendo que o faria no futuro, o que não ocorreu", disse.

Sigilos disponíveis
Carregando um carrinho com dois andares de papéis, Corrêa trouxe à CPMI documentos relativos aos sigilos telefônicos das suas casas em Brasília e Recife, dos seus gabinetes na Câmara, de seu escritório político em Recife, de 17 celulares, incluindo os do partido, da casa de sua mãe, também em Recife, e da sua fazenda, em Brejo da Madre de Deus (PE).
Ele também abriu os sigilos de nove contas bancárias e de seis cartões de crédito e apresentou a prestação de suas contas eleitorais desde 1994, além das prestações do filho, Fábio Corrêa Neto (que concorreu a deputado estadual em Pernambuco em 1998), e do genro, Roberto Teixeira (candidato a vereador em Recife em 2004).
Corrêa abriu o seu sigilo fiscal, das empresas das quais é sócio, de sua mulher, Maria Adélia, das duas filhas, do filho, dos dois genros, da nora, do irmão e da mãe, incluindo as declarações de Imposto de Renda dos últimos cincos anos.
O deputado entregou ainda certidões negativas de todas as instâncias judiciais militares e civis, da Serasa e do Banco Central - esta última comprovando que Corrêa não tem conta no exterior nem fez remessas para fora do País. "Durante minha vida política, não aumentei meu patrimônio. Quando me deito, durmo o sono dos justos", afirmou.

Defesa de Severino
Questionado pelo deputado Paulo Baltazar (PSB-RJ) se o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, já recebeu algum benefício financeiro, seja "mensalão" ou "mensalinho", Corrêa disse que não.
Segundo ele, Severino é um homem pobre, a ponto de morar em apartamento em nome da filha. "Inclusive, não por causa de dona Amélia (mulher de Severino), a casa é descuidada, o sofá tem buracos e há coisas quebradas. Na casa em João Alfredo (PE) é a mesma coisa, não tem nada inteiro", descreveu. Corrêa disse que é amigo do presidente da Câmara e o conhece há 40 anos.

Confronto de depoimentos
O presidente da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), afirmou no fim do depoimento que ainda é cedo para julgar as declarações do presidente do PP: "Agora nós teremos que confrontar as declarações do deputado Pedro Corrêa com as do senhor Genu à Polícia Federal. O juízo tem que surgir não de uma parte, mas no conjunto das provas disponíveis". Lando convocou uma reunião administrativa fechada da comissão para as 9 horas de amanhã.

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Da Reportagem
Edição – Patricia Roedel

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