Falta de recursos para o SUS é criticada em simpósio

29/06/2005 - 20:43  

Participantes do simpósio sobre a política nacional de saúde criticaram nesta quarta-feira, na Câmara, a falta de recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Na opinião do pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Gonzalo Vecina, por exemplo, é preciso criar alternativas de gestão do sistema e até uma lei de responsabilidade sanitária. O pediatra sanitarista Gilson Carvalho concorda. "Tudo para todos em questão de saúde, como está previsto na Constituição, é possível?", indagou. Segundo Carvalho, o principal obstáculo para atingir esse objetivo, além da falta de dinheiro, é a ineficiência no uso dos recursos.
A falta de recursos também foi apontada pelo representante da Confederação Nacional das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), José Luis Spigolon, como motivo para a inexistência de uma saída na crise no setor de saúde. Spigolon lembrou que, para cada R$ 100 gastos, os hospitais só recebem R$ 75. "Custo é custo e não há como cortar mais", comentou. "Remunerar os prestadores de serviço abaixo do custo leva a uma situação insustentável."
O representante da CMB alertou para o endividamento dos hospitais, que tem causado o sucateamento predial e dos equipamentos, a precariedade no atendimento e a baixa remuneração dos profissionais de saúde. "O quadro pode resultar em uma falência completa do sistema", avisou.
Spigolon criticou ainda a ausência de planos regionais, municipais e estaduais do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele acredita que a falta de coordenação regional do SUS é responsável pelo descompasso entre a oferta e a demanda pelo sistema de saúde. "Os postos funcionam no horário em que as pessoas trabalham", observou. "Da forma como o atendimento é oferecido, não há como esperar que a população o procure espontaneamente", complementou o representante.

Planos privados
A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia questionou se os planos privados realmente amenizam a situação do SUS, já que os clientes continuam a usar serviços de maior tecnologia nos hospitais públicos. Ela observou que, ao se formar, o jovem profissional encontra uma comunidade de saúde dividida. "Alguns médicos não atendem convênios, mas os clientes são reembolsados. Outros atendem somente convênios grandes e alguns, todos os convênios."
A professora também lamentou o fato de vários secretários de saúde serem donos de hospitais privados, o que, em sua opinião, gera um conflito de interesses. O panorama complexo, segundo a professora, seria responsável pela distância entre o SUS de hoje e o sistema de saúde preconizado pela Constituição Federal.

Debate social
Para o representante do Conselho Nacional da Secretaria de Saúde (Conass) Marcus Vinicius da Silva, é preciso debater com a sociedade as necessidades do SUS. "É necessário politizar o debate da saúde para discutir com a população o sistema público que ela quer", disse.
O simpósio, promovido pela Comissão de Seguridade Social e Família, em parceria com a Frente Parlamentar da Saúde e com a Comissão de Assuntos Sociais do Senado, prossegue amanhã no auditório Nereu Ramos.

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Reportagem - Simone Salles
Edição - Noéli Nobre

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