Política e Administração Pública

Deputado quer antecipar debate sobre doadores de medula

24/04/2009 - 18:40  

Autor da proposta que cria uma semana de mobilização para doação de medula óssea, sancionada nesta semana, diz que já vai debater com o Ministério da Saúde e o Inca as ações para aumentar o cadastro de doadores

Aprovado pelo Congresso, o projeto de lei (PL 4383/08) que cria a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea foi sancionado pelo presidente Lula na última quarta-feira (22) e virou lei (Lei 11.930/09). O autor da proposta, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), em entrevista à Agência Câmara, afirmou que já vai conversar com o Ministério da Saúde e com o Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre a mobilização, que ocorrerá de 14 a 21 de dezembro.

Beto Albuquerque explicou que é preciso ter um grande número de pessoas cadastradas para se achar doadores compatíveis, e que a lei será uma ferramenta para mobilizar o poder público a esclarecer a população sobre o assunto. Em fevereiro, o deputado perdeu o seu filho Pietro, de 19 anos, vítima de leucemia.

Agência Câmara: Qual a sua expectativa em relação à lei que institui a semana de mobilização para doação de medula óssea?

Beto Albuquerque: A expectativa é que a lei seja uma ferramenta que mobilize o poder público no sentido de conscientizar, esclarecer o que estamos falando quando tratamos de transplante de medula. O que é essa medula, a facilidade de se cadastrar em um banco para ser um futuro doador, a facilidade do próprio transplante e o quanto é necessário as pessoas entrarem nesse cadastro, já que no Brasil nós temos todos os anos 10 mil casos novos de leucemia que precisam, na esmagadora das vezes, de um transplante. Do contrário, se enfrenta a tragédia, como eu enfrentei em fevereiro, de ter que enterrar um filho. Então, essa resposta do Congresso de votar essa lei demonstra a sua sensibilidade e mostra que esse é um instrumento que vai dar um perfil oficial para essa campanha. Nessa uma semana por ano, as campanhas de mobilização serão intensificadas, assunto que já vou começar a tratar com o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer.

Agência Câmara: Qual a importância de se ter um número maior de doadores?

Beto Albuquerque: Quanto mais doadores temos, mais chances de achar alguém compatível com um doente. Se um cidadão não acha dentro da família alguém compatível geneticamente - são avaliadas seis variações genéticas no exame de sangue -, a busca fora da família é muito difícil. Você precisa, em alguns casos, de cem mil doadores para achar um compatível com o doente. Então, um País com 200 milhões de habitantes pode ter um grande cadastro de doadores.

Agência Câmara: O senhor tem dados sobre o número de doadores existente hoje no Brasil?

Beto Albuquerque: Hoje já temos um número muito significativo: são 900 mil brasileiros cadastrados. Isso é resultado de um esforço que o Instituto do Câncer vem fazendo junto ao registro de doadores nacionais, mas nós precisamos de muito mais. E os estados brasileiros têm geneticamente, eticamente, formações muito distintas. Por isso, cada estado do País tem que mobilizar sua gente, porque é mais fácil encontrar um doador compatível perto de casa, dentro do seu estado, porque ali há uma genética própria. O Rio Grande do Sul, apenas para exemplificar, que é um estado muito miscigenado de raças e de etnias, precisaria hoje de pelo menos de 300 mil doadores cadastrados para que a gente possa ter uma linha de frente de amostragem genética para enfrentar os cerca de mil casos novos de leucemia que temos todos os anos. No Brasil, que são 10 mil casos por ano, nós precisamos ter em cada estado um grande agrupamento de doadores e, com isso, uma amostra genética que ofereça probabilidades muito maiores do que a que temos hoje de acharmos doadores compatíveis.

Agência Câmara: Qualquer pessoa pode ser doadora?

Beto Albuquerque: Para se cadastrar como candidato a doador é preciso ter entre 18 e 55 anos, ir a um hemocentro ou um hospital que seja referência em transplante de medula, tirar 10 ml de sangue, preencher uma ficha cadastral e pronto. A partir daí, a pessoa aguarda ser chamada para fazer a doação, se for compatível com alguém que esteja precisando. O transplante também é fácil. As pessoas costumam confundir medula vertebral com medula óssea, quando, na verdade, a medula vertebral é a nossa coluna e não tem nada a ver com isso. A medula óssea é, a rigor, um sangue esponjoso que habita entre os ossos da bacia e é rico em células-tronco, produtoras da defesa que nós temos para enfrentar todos os tipos de doenças. Esse sangue é retirado por meio de uma seringa e infundido na corrente sanguínea do doente. Isso é um transplante de medula, não é uma cirurgia que resulte cortes, pontos, complicações, ameaças ou qualquer tipo de temeridade.

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Reportagem - Oscar Telles/SR

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