Deputado defende critério de renda, mas pesquisadores são contra

23/01/2009 - 16:16  

Uma das modificações introduzidas no projeto de cotas pela Câmara incluiu critérios econômicos para a seleção dos alunos. A regra determina que 50% das vagas reservadas aos alunos da escola pública sejam destinadas a estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 622,50) por pessoa.

A modificação foi sugerida pelo deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP). Para ele, a cota social ou com critérios econômicos é mais positiva do que a cota racial. "O critério social, por renda, atenderia de maneira mais efetiva a questão racial. No Brasil, a disparidade social é muito mais determinada pela renda do que pela raça."

Critério irreal
O antropólogo e professor da UnB José Jorge de Carvalho não concorda com o critério por renda. "Não deveria haver um valor mínimo. Esse valor atinge exatamente os mais pobres, que não terão condições de permanecer na universidade se não houver um apoio paralelo do governo para os alunos. Não é realista colocar um recorte de renda tão baixo para os alunos cotistas", pondera.

Carvalho lembra que o aluno universitário é exigido, por exemplo, a entregar trabalhos impressos, digitados em computador. Além disso, o estudante precisa ter acesso aos livros, às apostilas, à impressão dos trabalhos e aos demais recursos necessários para um bom aproveitamento escolar.

Medida inaplicável
Opinião similar tem o sociólogo Demétrio Magnoli. Para ele, o critério de renda instituído pela Câmara é "inaplicável". "É uma medida para enganar pessoas desinformadas. A imensa maioria dos alunos que chegam ao final do ensino médio tem renda superior ao que estabelece o projeto. Isso foi apenas uma forma de o deputado Paulo Renato justificar sua mudança vergonhosa de opinião em relação às cotas de raça", critica.

Os dois pesquisadores concordam com a importância de mais investimentos no ensino público para que haja uma real democratização do acesso ao ensino superior.

Magnoli também afirma que é contra o estímulo ao ensino superior privado, como o previsto no Prouni. "O que se deveria fazer é melhorar a escola pública e ampliar o número de vagas das universidades públicas."

O professor José Jorge de Carvalho critica, ainda, a criação do Coeficiente de Rendimento pelo projeto aprovado na Câmara. Segundo ele, selecionar os alunos por meio da média aritmética é um absurdo. "A nota 9 de uma escola do interior do Rio Grande do Sul é a mesma nota 9 do interior do Piauí ou de Pernambuco? Não há controle sobre essa avaliação, está sujeita a qualquer tipo de manipulação. Tem que haver um exame de caráter nacional, centralizado pelo MEC, com critérios iguais para todos", sugere.

Reportagem - Cristiane Bernardes
Edição - Pierre Triboli

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