Política e Administração Pública

Delegado confirma escuta ilegal da Kroll na Telecom Italia

07/08/2008 - 15:22  

O delegado da Polícia Federal (PF) Élzio Vicente da Silva confirmou hoje, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas, que a empresa Kroll Associates, de origem norte-americana, realizou escutas clandestinas contra a Telecom Italia. As provas da interceptação motivaram as ações penais que correm hoje na Justiça paulista contra a empresa, os funcionários responsáveis e os mandantes do trabalho.

Por se tratar de ações que correm em segredo de justiça, o delegado evitou indicar as pessoas que estão sendo processadas pelo Ministério Público. A única exceção foi o israelense Avner Shemesh, suposto responsável pela colocação dos grampos. Todos foram pegos pela Operação Chacal, deslanchada pela PF em 2004, que desvendou o esquema da Kroll, supostamente montado a pedido do banqueiro Daniel Dantas. Na época, ele travava uma disputa com a multinacional italiana pelo controle acionário da Brasil Telecom.

Silva, que comandou a operação, disse ainda que a própria diretoria da Brasil Telecom comunicou em 2005 à PF que havia uma cobrança da Kroll contra a empresa brasileira por serviços prestados à época em que a diretoria era comandada pela executiva Carla Cico, braço direito de Daniel Dantas. Para os deputados, isso pode ser um indício de que a Kroll realizou escutas ilegais para a telefônica brasileira a pedido de Dantas ou de Carla Cico.

Diretor da Kroll
De acordo com o relator da comissão, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), as afirmações do delegado desmontam o depoimento do diretor da Kroll Eduardo Gomide, que em julho afirmou à CPI que a empresa não realiza investigações, limitando-se apenas a reunir informações públicas e analisá-las para os clientes. O deputado Laerte Bessa (PMDB-DF) informou que, diante das afirmações do delegado, vai solicitar um novo depoimento do diretor da Kroll.

Élzio Silva disse ainda que não é raro a PF se deparar, no curso de investigações rotineiras, com grampos ilegais colocados por investigadores privados. Durante a Operação Chacal, ele afirmou ter apurado que havia no "mercado" de investigação privada de São Paulo uma tabela de preços para escuta ilegal em telefones fixos ou celulares. Quanto aos preços, ele disse que não se recordava dos valores.

Prática comum
Pellegrino destacou que as afirmações reforçam a sua convicção de que o grampo ilegal se tornou uma prática comum no Brasil. "O grampo no Brasil é feito de forma generalizada. É fácil conseguir uma interceptação clandestina em nosso País." O relator confirmou que vai solicitar à Justiça o acesso às ações penais da Operação Chacal e da Satiagraha, esta última também da PF e que prendeu Daniel Dantas por supostos crimes financeiros.

Para o presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), ficou claro que o grupo de Daniel Dantas se utilizou de uma empresa de investigação para buscar dados submetidos a sigilo legal, "o que seria uma ilegalidade".

O relator e os demais parlamentares elogiaram o depoimento de Silva, que, apesar de não ter respondido todas as questões, foi mais cooperativo do que o delegado Protógenes Queiroz, que depôs ontem por ter comandado a Operação Satiagraha.

Novos depoimentos
A CPI volta a se reunir na próxima terça-feira (12) para votar requerimentos de convocação e para ouvir o juiz federal Fausto De Sanctis. Na quarta-feira (13), a comissão ouve Daniel Dantas. De Sanctis pediu duas vezes a prisão do banqueiro na Operação Satiagraha.

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Reportagem - Janary Júnior
Edição - Regina Céli Assumpção

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