Política e Administração Pública

Depoimento faz CPI das Escutas lembrar o caso do mensalão

08/07/2008 - 22:26  

O depoimento do diretor da Kroll Associates Brasil Ltda., Eduardo Gomide, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas e as prisões realizadas pela Polícia Federal nesta terça-feira fizeram retornar à cena questões levantadas durante as CPIs do Mensalão e dos Correios, iniciadas em 2005. A empresa é acusada de realizar espionagem de autoridades brasileiras para beneficiar o banqueiro Daniel Dantas, um dos presos pela PF e que também seria um dos financiadores do mensalão.

Em depoimento nesta terça na Câmara, o diretor da Kroll negou as acusações de que realize escutas telefônicas ou qualquer atividade ilegal. A Kroll também foi acusada de espionar o ex-ministro Luís Gushiken, que se opunha ao banqueiro Dantas pelo controle da Brasil Telecom, numa disputa comercial que envolvia ainda os fundos de investimento. Dantas estava em disputa internacional com a Telecom Itália pelo controle acionário da empresa. Gomide afirmou que o contrato, feito pelo escritório da empresa no Reino Unido, foi para que a Kroll subsidiasse o processo, que corria em Nova Iorque, juntando e coletando evidências.

Nesse sentido, afirmou, a Kroll coleta legalmente dados disponíveis sobre as empresas e pessoas envolvidas. Ele acrescentou que a Kroll investiga inclusive se as companhias ou pessoas com elas envolvidas têm relações promíscuas com governos ou com autoridades nacionais ou estrangeiras, porque esse tipo de problema gera enormes sanções em alguns países, como nos Estados Unidos.

Daniel Dantas foi uma das 17 pessoas presas nesta semana como parte da Operação Satiagraha da Polícia Federal, que investiga desvios de verbas públicas e crimes financeiros.

Corrupção
Gomide afirmou que atribui as acusações contra a Kroll a uma operação iniciada na Itália; os autores seriam parte do grupo de 26 funcionários da Telecom Itália presos durante investigação sobre corrupção de autoridades italianas e estrangeiras. Ele lembrou que essa organização, de acordo com denúncia publicada na revista Veja, teria atuado no Brasil.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) solicitou que a CPI peça cópia do inquérito à Itália, e ressaltou que já havia feito esse pedido duas vezes na Comissão de Ciência e Tecnologia, porque as denúncias atingem autoridades brasileiras e integrantes do Congresso. Ele lembrou que a CPI do Mensalão investigou denúncias de que pequenas corretoras repassavam dinheiro a parlamentares da base do governo. Para o deputado, é preciso investigar também a transferência do controle da Brasil Telecom e sua fusão com a Oi, e como isso beneficia Dantas.

O parlamentar lembrou ainda que o ex-deputado Roberto Jefferson denunciou a ida do empresário Marcus Valério a Portugal, apresentando-se como representante do governo, para negociar a venda da Brasil Telecom para a Portugal Telecom.

Segundo o deputado, essas questões estão intimamente ligadas àquelas levantadas pelas CPIs anteriores e às prisões realizadas hoje. Fruet assinalou que uma das questões que ficaram em aberto foi o papel dos fundos de pensão e das corretoras: "Tudo indicava serem geridas por laranjas".

Acusações
Dantas e a ex-presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco, que contratou a Kroll, são acusados pela CPI dos Correios de sonegação fiscal, tráfico de influência e corrupção ativa. Dantas é considerado como um dos financiadores do "mensalão". Na gestão de Cicco, a Brasil Telecom firmou contratos com as agências de publicidade SMPB e DNA, do empresário Marcos Valério.

Fruet disse que a Polícia Federal e o Ministério Público continuaram a investigar o que as CPIs não conseguiram apurar inteiramente. Parte desse material foi enviado para São Paulo, de onde partiram as prisões desta terça-feira. O deputado afirmou que os personagens suspeitos são os mesmos e que os fatos estão ligados.

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Reportagem - Vania Alves
Edição - Regina Céli Assumpção

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