Especialistas defendem relatório para trem-bala RJ-SP

30/04/2008 - 16:17  

O presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S/A, José Francisco das Neves, defendeu nesta quarta-feira a utilização do relatório ambiental produzido pela empresa italiana Itauplan para agilizar a construção do trem-bala ligando o Rio de Janeiro com São Paulo. "Caso seja necessário fazer outro estudo de impacto ambiental, o projeto será atrasado em pelo menos dois anos", declarou Neves, durante audiência pública da Comissão de Viação e Transportes sobre o assunto.

O executivo minimizou as preocupações referentes à demanda pela utilização desse tipo de transporte e disse que haverá procura de passageiros suficiente para viabilizar economicamente o projeto – estimado em 11 bilhões de dólares (cerca de R$ 18,7 bilhões) – sem a necessidade de aporte de recursos públicos. "O governo de São Paulo fez uma projeção de 16 milhões de passageiros entre São Paulo e Campinas (SP) em 2010. No trecho entre São Paulo e Rio de Janeiro, o patamar vai superar os 32 milhões de passageiros por ano", declarou Neves.

O estudo da Itauplan considera que, para não necessitar de recursos públicos, o trem-bala precisaria transportar pelo menos 32 milhões de passageiros por ano, sob uma concessão de 35 anos.

Viabilidade
A preocupação com a viabilidade do trem-bala foi manifestada por alguns deputados, entre eles o autor do requerimento para a realização da audiência, Vanderlei Macris (PSDB-SP). "Eu sou totalmente favorável ao trem-bala, mas acho temerário o governo anunciar um projeto que ainda não se mostrou viável economicamente", disse.

Entre as vantagens do novo meio de transporte, Macris destacou a possibilidade de ele solucionar o problema de mobilidade de pessoas entre as capitais e o município de Campinas (SP), onde também haverá uma estação do trem. Outra vantagem, segundo o deputado, é que o projeto poderá reduzir a demanda pelos aeroportos de Guarulhos e de Cumbica, ambos em São Paulo, uma vez que haverá a possibilidade de transferir passageiros para o aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Oficialmente, os responsáveis pela elaboração do relatório que vai orientar as licitações do projeto são o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que prometem para outubro a conclusão do trabalho.

O representante do BNDES na audiência, Henrique Amarante da Costa Pinto, declarou não ter nada contra o relatório da Itauplan para subsidiar o relatório oficial, mas destacou que as negociações para tornar público o documento ainda não foram concluídas. "Enviamos um pedido para conhecer a íntegra do projeto da Itauplan, mas a empresa não respondeu, talvez porque ela queira participar da licitação e não pretenda expor as informações que obteve", informou Amarante.

Turismo
O secretário de Transportes do Estado do Rio, Julio Lopes, também participou da audiência e defendeu o projeto da Itauplan. Para ele, a instalação do trem-bala aumentará "em grande escala" o fluxo de turistas entre as capitais fluminense e paulista. Lopes apresentou dados levantados pelo instituto de pesquisa Ibope que demonstram que 68% dos paulistanos pesquisados não conhecem o Rio de Janeiro e 35% dos cariocas nunca foram à capital paulista. "Só uma crise de mobilidade pode explicar o fato de cidadãos que vivem tão perto nunca terem visitado a outra cidade", comentou.

A mesma pesquisa apresentada pelo secretário demonstra que 86% dos entrevistados trocariam outros meios de transporte pelo trem de alta velocidade, cuja passagem para o trecho entre as capitais é estimada atualmente entre R$ 120 e R$ 130. Se o trem e o avião tivessem a mesma tarifa, 63% utilizariam a primeira opção, e apenas 35% fariam o percurso pelo ar.

Licitação
Em fevereiro deste ano, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, anunciou que a licitação para a obra deverá ser realizada em 2009. O trem-bala entre as duas cidades foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Estudo elaborado pela Consultoria Legislativa da Câmara contesta, no entanto, a viabilidade da implantação da obra. O trabalho dos consultores sustenta que o projeto não poderá ser executado exclusivamente por investidores privados, sem aporte de recursos públicos, e contesta a experiência da empresa que elaborou o projeto e a previsão da demanda de passageiros para os próximos quatro anos.

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Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição - Regina Céli Assumpção

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