Estádios brasileiros estão aquém do padrão internacional

13/12/2007 - 17:45  

O Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) apresentou hoje à Comissão de Turismo e Desporto um relatório que mostra a inadequação dos estádios brasileiros às normas internacionais, elaborado após inspeção visual realizada em 29 deles, em 17 capitais e na cidade de Santos (SP).

A comissão iniciou hoje uma série de audiências públicas para discutir as condições dos estádios de futebol do País, motivada pela tragédia do último dia 25 no estádio Fonte Nova - onde parte da arquibancada desabou, matando sete pessoas e ferindo pelo menos 30. Os deputados estão preocupados com as medidas que precisam ser tomadas para adequar os espaços para a Copa do Mundo de 2014, que terá o Brasil como sede.

O presidente do Sinaenco, disse que o Fonte Nova, na Bahia, era visivelmente o que estava em pior estado.

O arquiteto Carlos de La Corte, que fez tese de doutorado sobre o assunto, afirmou que os quatro maiores estádios de futebol brasileiros (Pacaembu, Morumbi, Mineirão e Maracanã) estão fora dos padrões de conforto e segurança internacionais. La Corte avaliou que de 20% a 30% dos critérios adotados pelos estádios brasileiros foram elaborados a partir de normas e da literatura internacional sobre o assunto. Segundo ele, a Europa, liderada pela Inglaterra, reformulou seus estádios de futebol nos últimos 20 anos, e a tendência é demolir e reconstruir os estádios irregulares.

O arquiteto aponta que a origem do problema brasileiro é a ausência de normas arquitetônicas, além do abandono das estruturas. La Corte sugere a criação de um órgão fiscalizador nacional, a emissão de certificados de qualidade dos estádios, o treinamento de monitores de segurança, a responsabilização pela partida do clube que tem o mando de jogo e a retirada da polícia dos estádios.

Organização amadora
O ex-coordenador da Comissão Paz no Esporte, do Ministério do Esporte, Marco Aurélio Klein, afirmou que um dos principais problemas dos estádios é a superlotação, além das dificuldades de acesso às escadas e saídas, o que pode gerar tragédias. "Os maiores problemas aconteceram no mundo não por brigas de torcidas, que são lamentáveis, mas por movimentações em estádios lotados", disse.

Klein também classificou como "amadora" a organização das partidas de futebol no Brasil. Em sua opinião, os principais problemas estão nos recursos humanos que lidam com o futebol. Há, segundo ele, uma cultura de que o futebol pode ser desmantelado, embora o Brasil mostre capacidade para a realização de grandes eventos. Klein destacou o rodeio da cidade de Barretos (SP), um dos três maiores do mundo, e que atende a todas as normas de segurança internacionais. Ele também lembrou que o show do The Police, que reuniu 75 mil pessoas no último dia 6, no Maracanã, teve organização compatível com eventos internacionais. "Quem fosse lá no Maracanã ia achar que estava em outro mundo, mas no futebol não temos esse cuidado", disse.

Soluções
O coordenador da Comissão de Ética e Exercício Profissional do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), Fernando Luiz Beckman, disse que os engenheiros e arquitetos brasileiros têm plena capacidade de implementar as mudanças necessárias nos estádios do País. Segundo ele, ainda que seja preciso se espelhar em normas e exigências internacionais, a mão-de-obra e as soluções devem ser brasileiras e adaptadas à realidade nacional. Segundo ele, quando se trata de manutenção, é preciso elaborar laudos a cada cinco anos, no máximo, e isso não tem sido cumprido.

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Reportagem - Marcello Larcher
Edição - Alexandre Pôrto

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