Trabalho, Previdência e Assistência

Profissionais apontam avanços na luta contra manicômios

29/11/2007 - 14:42  

Profissionais da saúde mental e militantes do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial fizeram nesta quinta-feira um balanço positivo dos 20 anos de luta contra os manicômios no Brasil. Em audiência pública promovida pela Comissão de Seguridade Social e Família, eles reconheceram conquistas, como a aprovação da Lei da Saúde Mental (Lei 10.216/01), que prevê proteção e assistência médica completa aos portadores de doenças mentais.

O deputado Chico D`Angelo (PT-RJ) avaliou que o saldo da reforma psiquiátrica é positivo. Entretanto, reconheceu que há "gargalos" que precisam ser enfrentados, como o atendimento prestado em casos de urgência. "Esse é um nó que precisa ser, e está sendo, trabalhado: ter uma assistência mais ágil para o paciente que tem um distúrbio agudo e precisa de um atendimento emergencial qualificado", disse.

Também a deputada Solange Almeida (PDMB-RJ) afirmou que, em muitos casos, pacientes em crise não contam com atendimento adequado por falta de serviços de emergência psiquiátrica. Em sua opinião, é fundamental a humanização do tratamento e a valorização dos profissionais que atuam na área. Solange Almeida lembrou que 20% da população brasileira têm algum tipo de transtorno mental. "Será que os hospitais psiquiátricos não são importantes para tratar essas pessoas?", questionou.

Leitos psiquiátricos
O deputado Germano Bonow (DEM-RS) defendeu a discussão sobre a possibilidade de não se desativar leitos psiquiátricos, para garantir atendimento a quem hoje não tem acesso a nenhum tipo de tratamento. Segundo ele, hoje existem apenas dois mil leitos psiquiátricos nos hospitais gerais de todo o País. Informou também que, juntos, Acre, Pará, Distrito Federal, Amazonas, Rio Grande do Sul e Bahia têm menos leitos em hospitais psiquiátricos (2.493) que Pernambuco (3.063). "Há alguma coisa errada", disse.

Em sua opinião, o programa dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) está indo bem, mas as políticas públicas não podem ignorar os pacientes que hoje vivem na rua e que estão sem atendimento.

A criação dos CAPs é considerada uma das principais conquistas do movimento antimanicomial. Nesses locais, os pacientes contam com atendimento em regime de atenção diária, o que permite a convivência familiar e social. Atualmente, existem 1.153 CAPs no País, que atendem um total de 360 mil pacientes por ano.

Contra internação
O militante do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial Geraldo Peixoto disse respeitar os familiares que preferem a internação, mas declarou que não acredita em hospitais psiquiátricos. Ele relatou sua experiência como pai de um paciente de um CAP. O filho dele, hoje com 42 anos, chegou a ser internado em um hospital psiquiátrico quando tinha cerca de 20 anos, porque, na época, Peixoto achou que essa opção seria a melhor. Entretanto, depois de uma crise psicótica do filho, descobriu o CAP.

Peixoto disse que seu filho hoje está bem e que a experiência com a doença mental provocou uma mudança significativa em sua vida. "Aprendi que, quando você começa a respeitar a subjetividade da pessoa, dá o direito a ela de viver como ela é, e não como gostaríamos que ela fosse", declarou. A partir daí, disse ter desenvolvido uma profunda relação de amizade e companheirismo com seu filho, e lamentou a dificuldade que alguns familiares encontram de conviver com a subjetividade de pessoas que têm transtornos mentais.

Esquizofrenia
Peixoto afirmou que, ao internar seu filho, ouviu pela primeira vez a palavra esquizofrenia e que, ao procurar seu significado, acabou conhecendo a obra do artista plástico Arthur Bispo do Rosário, morto em 1989. "Aí vi que não tinha nada de pejorativo nem nada a ser escondido", disse.

A história de Bispo do Rosário liga-se também à da Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século 20, destinada a abrigar pessoas classificadas como anormais ou indesejáveis (negros, pobres, alcóolatras e "desviantes" das mais diversas espécies).

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Reportagem - Mônica Montenegro/Rádio Câmara
Edição - Renata Tôrres

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