Controlador: software induz a erro e ameaça segurança

22/05/2007 - 19:51  

O presidente da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo, 1º sargento Wellington Andrade Rodrigues, afirmou hoje em depoimento à CPI da Crise Aérea que os softwares utilizados pelo sistema nacional de controle induzem o controlador ao erro e ameaçam a segurança.

O controlador, que trabalha no Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 1), defendeu a reestruturação do espaço aéreo brasileiro para solucionar a crise aérea do País. A solução, disse, depende ainda de mudanças que vão da desmilitarização do setor à diminuição do número de operações controladas por um único homem. No Brasil, um controlador tem um setor com até oito aeronaves, em procedimentos, portes e altitudes diversos. No exterior, afirmou Rodrigues, é um por setor.

Segundo o sargento, de janeiro a setembro de 2006 houve 340 registros de situações que envolveram problemas técnicos no controle de tráfego, somente no Cindacta 1. Entre eles, estão duplicações de pistas de radar, falhas de freqüência, quedas do sistema e falhas de visualização do radar.

Indagado pelo deputado Vic Pires Franco (DEM-PA), Rodrigues confirmou que há 15 dias dois aviões de grande porte quase se chocaram perto de Brasília. Porém, ele não quis detalhar as informações e sugeriu que elas sejam pedidas pela CPI ao Comando da Aeronáutica.

Software precário
Rodrigues explicou que um dos pontos críticos está no software utilizado no controle do vôo. Ele disse que o plano de vôo apresentado pelo software não é necessariamente o que foi autorizado pelo controlador. No caso da Gol, quando o Legacy sobrevoou Brasília, onde deveria passar da altitude de 37 mil pés para 36 mil pés e não o fez, o programa alterou automaticamente a apresentação da altitude para 36 mil pés. Rodrigues afirmou que, com o Legacy, o que foi pedido pelo piloto e autorizado foi a altitude de 37 mil pés. O controlador, afirmou Rodrigues, ao ver a altitude de 36 mil pés, foi induzido a pensar que não haveria problema com o vôo da Gol, que também seguia a 37 mil pés.

Visibilidade
Questionado sobre as imagens exibidas pelo Rede Globo que mostram no radar o momento do acidente e da perda de contato, Rodrigues disse que aquelas imagens foram vistas de Manaus e não de Brasília. "Quem controlava o vôo não via o vôo", afirmou. O controlador afirmou que isso ocorreu porque havia uma zona cega, o que é negado pela Aeronáutica.

O presidente da associação afirmou que essa zona cega foi resolvida após o acidente, mas que ainda há outras regiões como o mesmo problema, como a zona oeste de Recife, em Pernambuco. "Mesmo áreas cobertas às vezes desaparecem", relatou. Rodrigues disse que antes do acidente já havia pedidos registrados de controladores para que o software fosse mudado, solução também apontada por autoridades internacionais de tráfego aéreo, o que não ocorreu até hoje.

Rodrigues relatou ainda que o software também cria imagens fantasmas e pistas falsas, que confundem os controladores. O deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG), um dos autores do requerimento, afirmou que o presidente da comissão da Aeronáutica que investiga o acidente, coronel-aviador Rufino Ferreira, afirmou que essas falhas duram segundos. Para o controlador, poucos segundos bastam para um acidente e afirmou que há episódios que comprovam as dificuldades.

Em resposta ao relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), o controlador afirmou que pesquisou programas utilizados sobretudo na Europa e, segundo as informações que obteve, eles não apresentam esse tipo de problema senão quando há nevascas e acúmulo de neve na base da antena, o que é resolvido com a limpeza.

*Matéria atualizada às 22h43

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Reportagem – Vania Alves
Edição - Patricia Roedel

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