Agropecuária

Semi-árido requer R$ 2 bilhões, mas recebe R$ 12 milhões

03/05/2007 - 18:25  

O coordenador técnico de combate à desertificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Roberto Lima, afirmou hoje que a recuperação do semi-árido demanda investimentos de R$ 2 bilhões por ano até 2020. Lima revelou que, apesar da constatação, o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN) tem orçamento de R$ 12 milhões em 2007. O PAN articula ministérios, órgãos e empresas públicas no combate e na prevenção do processo de desertificação nas regiões brasileiras com clima semi-árido e subúmido seco.

O coordenador acrescentou que, a cada ano, só os prejuízos econômicos com a seca -por conta da degradação ambiental e da destruição dos solos - chegam a R$ 300 milhões por ano. "Estamos buscando mais recursos no Plano Plurianual (PPA) para o período de 2008 a 2011", disse. Ele admitiu que faltam técnicos, equipamentos e financiamento para a implementação do programa. "As ações são lentas porque os recursos são insuficientes."

Semi-deserto
O técnico do ministério participou de audiência pública sobre o impacto das mudanças climáticas no semi-árido brasileiro promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Ele afirmou que estudos no âmbito do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), apontam a alta probabilidade de que em 60 anos o clima do semi-árido se eleve de 4 a 6 graus centígrados e transforme a região em um semi-deserto.

"Será uma catástrofe para a biodiversidade da região. Você praticamente não terá rios correndo no Nordeste", concordou o pesquisador da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) Eneas Salati.

De acordo com Antônio Rocha Magalhães, economista, professor, consultor do Banco Mundial e pesquisador do IPCC, com o processo de desertificação do semi-árido, a tendência é que a população local fique mais pobre, já que a seca afeta muito a agricultura de subsistência. O pesquisador acredita que é preciso tomar duas providências: amenizar o processo de desertificação, diminuindo a emissão de gases na atmosfera; e preparar a população para se adaptar às mudanças climáticas.

Desertificação da América Latina
Magalhães disse que até 2050 metade das terras da América Latina estará sujeita à desertificação e à salinização, em razão do solo mais árido. Além disso, ele lembra que o estudo da ONU prevê o derretimento de geleiras andinas. "Esse processo pode ter um impacto muito grande nas bacias hidrográficas da região", afirmou o consultor.

O deputado Edson Duarte (PV-BA), que solicitou a reunião, apontou falhas do Poder Público para estudar, combater e divulgar as causas e implicações das mudanças climáticas. "A nossa preocupação é: até que ponto o governo incorporou a dimensão do problema?" "O quadro é arrasador", concordou Luiz Carreira (DEM-BA). "A prática da relação Congresso-governo tem que mudar", cobrou. Para o deputado, os parlamentares precisam assumir uma postura de independência e liderar os debates de temas fundamentais, como o aquecimento global.

Segundo Edson Duarte, os debates da audiência pública desta quinta-feira serão transformados em livro, a ser entregue às autoridades relacionadas com a área.

O IPCC divulga nesta sexta-feira a terceira parte do relatório sobre mudanças climáticas. O documento vai apresentar sugestões para reduzir as emissões de gases para a atmosfera e amenizar as conseqüências das mudanças climáticas.

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Reportagem - Edvaldo Fernandes e Paula Bittar
Edição - Regina Céli Assumpção

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